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sábado, 30 de março de 2013

Não à impunidade. Que a verdade e a justiça prevaleçam!

Governo concede anistia política a Alexandre Vannuchi e entrega novo atestado de óbito à família de Vladmir Herzog

Escrito por: William Pedreira


Sob grande comoção e simbologia, o governo federal, na figura da Comissão de Anistia, promoveu nesta sexta-feira (15) na Faculdade de Geociências da USP (Universidade de São Paulo) o ato oficial de anistia a Alexandre Vannuchi Leme, assassinado pela ditadura militar em 1973, reconhecendo sua responsabilidade pela morte e pedindo desculpas à família.
A celebração fez parte da 68ª Caravana pela Anistia e integrou a semana de atividades em homenagem aos 40 anos da morte de Alexandre.
Visivelmente emocionada, a ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse sentir-se envergonhada com as atrocidades cometidas pelo Estado durante o período da ditadura, “mas que numa sociedade democrática o Estado tem o dever de reconhecer que foi o responsável pelas mortes, torturas e assassinatos cruéis, ceifando vidas e acabando com famílias. Para ela, “se estamos vivendo o período mais longo da democracia, isso se deve a figuras como Alexandre Vannuchi, Vladimir Herzog e tantos outros que ousaram lutar e deram suas vidas por um ideal.”
Paulo Abrão, presidente da Comissão da Anistia e secretário nacional de Justiça, fez uma menção especial ao ex-ministro da Secretaria dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi e ao ex-presidente Lula, ao qual sem eles não seria possível iniciar essa política de reparação e resgate da memória. “É um gesto digno do Estado cumprindo a agenda de transição democrática de resgate da verdade e justiça, reconhecendo seus erros e pedindo desculpas às famílias das vítimas do regime militar. Isso é fundamental para não repetirmos no futuro as violações cometidas no passado”, enfatizou.
Aos 22 anos, estudante de Geologia da USP, Alexandre militava no movimento estudantil e na ALN (Ação Libertadora Nacional). Aprovado em primeiro lugar no vestibular, participava ativamente do cotidiano da universidade, sempre comprometido com a luta pela democracia no Brasil. Porém no dia 16 de março de 1973, mais um capítulo obscuro na história do Brasil foi escrito.
O estudante acabou sendo preso e levado para o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna), órgão subordinado ao Exército e criado para combater os opositores do regime militar, onde foi torturado até a morte, fato que ocorreu no dia seguinte.
Seus pais receberam no dia 20 um telefonema informando sobre a sua prisão no Dops. A família foi ao Departamento, percorreu todos os órgãos policiais, mas não conseguiu sequer uma confirmação sobre seu paradeiro. Após dias de angústia, seu pai, que viria para São Paulo no dia 28, foi surpreendido com a notícia em um jornal de Sorocaba informando sobre a morte de Alexandre Vannuchi por atropelamento após tentativa de fuga.
Essa foi a versão forjada pelos agentes do DOI-CODI e amplamente aceita e difundida pelos veículos de informação. Seu corpo foi jogado numa vala comum no Cemitério de Perus e coberto com cal para apagar rapidamente os vestígios da tortura. Os órgãos de repressão chegaram a apresentar três versões diferentes para a sua morte.
À época, outros estudantes da USP também tinham sido presos. Houve uma grande mobilização nos centros acadêmicos como forma de repúdio aos desaparecimentos e para buscar a verdadeira causa da morte de Alexandre. Assim, os estudantes resolveram se organizar, paralisaram aulas e fizeram greves. Mas o grande momento foi a realização de uma missa celebrada pelo cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, no dia 30 de março, reunindo mais de três mil pessoas na Praça da Sé.
Naquele dia, a cidade foi tomada por um forte aparato policial, com bloqueios na ponte da Cidade Universitária para evitar que os estudantes viessem até a Sé e outras dezenas de barreiras espalhadas pela cidade. Julio Turra, diretor executivo da CUT e que na época acabará de ingressar na faculdade de ciências sociais da USP, esteve presente na missa e lembrou das dificuldades em promover o ato depois do silêncio imposto pelo AI-5, em 1968.
“Particularmente para mim, esse ato de anistia por parte do governo tem um grande significado, pois estava ingressando na USP quando ocorreu a morte de Alexandre. Como o atestado da Polícia indicava suicídio, a Igreja Católica impedia mobilizações pós-morte em casos como este. Mas foi construído um ato público em forma de missa, primeira manifestação fora da USP. Foi um ato de ousadia, uma manifestação silenciosa reunindo milhares em São Paulo, mas de grande repercussão e que causou uma trinca na repressão”, recordou.
Durante a solenidade de anistia, Maria Cristina Vannucchi Leme, irmã de Alexandre, aproveitou para fazer uma homenagem especial aos seus pais (que não puderam estar presentes por conta da idade avançada) que trilharam um caminho de luta árdua e incessante na busca pela verdade e justiça. “Para minha mãe o golpe de 64 foi um vendaval que deixou nossa família em frangalhos. Nunca na vida ela imaginou que um dia tivesse de proteger seus filhos contra os perigos causados pelo Estado”, lamentou, informando que a família também buscará a retificação do atestado de óbito de seu irmão, a fim de que constem o local exato e as verdadeiras causas de sua morte: assassinado pelas atrocidades cometidas por agentes da ditadura nas dependências do DOI-CODI e enterrado como indigente numa vala comum em Perus.
As homenagens a Alexandre Vannuchi se estenderam por toda essa semana. Primeiro, ocorreu um show com o cantor Sérgio Ricardo na quinta (14) no Centro Cultural São Paulo. Ricardo apresentou em São Paulo logo após a morte do estudante o seu espetáculo Conversação de Paz, que reunia canções emblemáticas da resistência à ditadura no Brasil.
Já nesta sexta (15), além da cerimônia de anistia política, uma missa na praça da Sé foi celebrada pelo bispo emérito Angélico Sândalo Bernardino que em 1973 era bispo auxiliar da arquidiocese e estava com Dom Paulo Evaristo Arns na missa.
Verdade estabelecida - também nesta sexta-feira, a esposa, o filho e o neto de Vladimir Herzog receberam pelas mãos de Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional da Verdade, o novo atestado de óbito do jornalista.
A retificação foi acatada pela Justiça após pedido feito pela Comissão Nacional da Verdade. O novo documento rechaça a versão dos torturadores de ‘suicídio’. Constava no laudo da época assinado pelo legista Harry Shibata que Vlado, como era conhecido o jornalista, havia morrido "por asfixia mecânica".
A versão oficial agora consta que Vladimir Herzog foi assassinado em decorrência de lesões e maus tratos sofridos nas dependências do 2º Exército de SP, acabando de vez com a farsa montada pela ditadura.
A ministra Maria do Rosário afirmou estar aliviada pela correção de uma injustiça histórica. Para ela, a transição democrática não pode parar um só dia. “Convivemos com a falsidade de causas e óbitos relacionados àquele período, o que revela que tantos outros atestados foram montados pela voz e caneta. Ainda existem documentos históricos oficiais com essas inverdades, mas hoje colocamos um ponto final no caso Vladmir Herzog ao realizar este ato de reparação ao seu atestado de óbito”, celebrou.
Para o deputado estadual e presidente da Comissão da Verdade de São Paulo, Adriano Diogo, “não podemos perder a nossa capacidade de nos indignar. Esse reconhecimento do Estado é importante, mas a partir do momento que temos nomes e sobrenomes dos agentes torturadores é preciso que haja o julgamento e condenação política. O crime de tortura não prescreve conforme a nossa Constituição.”
Posição compartilhada pelo secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, segundo o qual o relatório da Comissão da Verdade e outros movimentos de resgate da memória e verdade devem ser complementados com uma segunda ação que seria o julgamento jurídico daqueles que cometeram crimes de lesa-humanidade. “Esses agentes estão sendo moralmente julgados, mas em nosso país temos uma Lei de Anistia criada pelos ditadores que proíbe qualquer punição. Como o STF já se posicionou a favor da Lei, nossa esperança é que haja uma revogação total da Lei de Anistia e a constituição de uma Lei de Memória e Verdade ou que o Congresso aprove um projeto de mudança da Lei de Anistia que possibilite o julgamento político de agentes do Estado”, informou.
FONTE:http://www.cut.org.br/destaques/23027/nao-a-impunidade-que-a-verdade-e-a-justica-prevalecam


Márcia Canêdo

By JORNALISMO ANTENADO with 1 comment

segunda-feira, 18 de março de 2013

Pesquisador aponta aumento de depressão, assédio e cocaína entre jornalistas


Crédito:Divulgação/FGV
José Roberto Heloani

Desde 2003, José Roberto Heloani investiga a interface entre saúde e a profissão jornalística. Naquele ano, o doutor em psicologia e professor titular da Universidade de Campinas (Unicamp) entrevistou cerca de 20 jornalistas do eixo Rio-São Paulo, com foco em qualidade de vida.
Após estudo intermediário de 2005 - com espaço amostral ampliado para mais de 70 profissionais - concluiu em 2012 o mais recente deles, com mais de 250 jornalistas, aprofundando temas como saúde mental, identidade e subjetividade, e incidência de assédio moral e sexual.

Suas conclusões são duras. De dez anos para cá, aumentam entre os profissionais da área as incidências de depressão, infidelidade conjugal e uso de drogas, principalmente, cocaína e anfetamina, além do fenômeno que ele chama de "naturalização do assédio". 

"Hoje, no país, há cerca de seis grandes grupos de comunicação. Ou seja, o jornalista precisa ter muita coragem para fazer uma denúncia formal de assédio se quiser permanecer no mercado. Além disso, trocar de profissão, quando desejado, não é fácil.” 

Outro problema apontado por Heloani é a distância entre a experiência real e a representatividade social da profissão. "Enquanto a imagem do jornalista é idealizada e positiva na sociedade, sua vivência diária é precarizada. Isso os torna mais inseguros e frustrados". 

Confira a íntegra da entrevista à IMPRENSA:

IMPRENSA – Quais foram as novidades da última pesquisa?
ROBERTO HELOANI – Os casos de assédio moral e sexual tornaram-se mais rotineiros, embora já existissem. Mas, o problema vai além. Se, em outras categorias profissionais, o grau de denúncias de assédio tem aumentado – como a dos bancários, por exemplo, que acompanho há muitos anos –, no jornalismo, o assédio aumentou, mas o número de pessoas que recorrem à Justiça diminuiu.

Isso pode ter a ver a competição acirrada do mercado jornalístico?
Não tenho nenhuma dúvida disso. No Brasil, há seis grandes grupos de comunicação. Você precisa ter muito coragem para fazer uma denúncia formal de assédio se quiser permanecer no mercado. A pessoa pode até pensar em mudar de área, ir para assessoria ou área acadêmica, mas nenhuma alternativa é fácil. 

O que suas pesquisas revelaram sobre o estresse? 
Hoje, o jornalista é um profissional multifocal. O que pode parecer muito interessante, mas, na prática, as coisas não são bem assim. É um profissional que se tornou muito mais estressado do que era. Primeiro, ele não pode dominar só uma mídia. Ele é um profissional que precisa ser repórter, fotógrafo, motorista, às vezes, cuidar da própria segurança. Então, hoje, há maior incidência de um estresse patológico. Na primeira pesquisa, não víamos muita gente em estado de pré-exaustão ou exaustão, que é o caso mais grave. Na mais recente, começamos a ver pessoas debilitadas, em pré-exaustão, inclusive recorrendo mais a drogas lícitas e ilícitas.

Aumento de que ordem? Quais drogas, especificamente?
Apesar de ser difícil estabalecer um percentual, diria que aumentou cerca de 25%. O álcool é a droga mais recorrente, além de café e energético em alta medida. O problema é que aumentou o uso de drogas estimulantes, como cocaína e anfetamina. É uma forma de o cara conseguir escrever quatro ou cinco matérias em veículos diferentes, dormir três ou quatro horas, e dar conta do recado. Muitas vezes, sem tempo de ir ao psicólogo ou ao médico, o cara ouve falar de alguém que conseguiu ter um pique legal com “uma cheirada numa carreira” e aí ele perde o pé. É cada vez maior o número de pessoas que trabalham intoxicadas.

Como as dificuldades da profissão têm impactado a esfera pessoal e familiar dos profissionais?
Se há uma coisa que não se altera nas três pesquisas que realizei é que as mulheres, principalmente, queixam-se muito de como a profissão reflete na relação familiar e na relação com o companheiro. Primeiro, elas se queixam que não é fácil namorar com alguém que não seja da área. Começa a pintar ciúmes ou a convivência se torna muito esporádica. Já vi muitos jornalistas que só se encontram no aeroporto. 

Então, pode-se dizer que a profissão jornalística dificulta uma relação estável e fiel?
Muito. Mas, a queixa dessas pessoas é que elas, justamente, não querem isso. Elas querem um relacionamento, um companheiro. Não é questão de moralismo, mas o patológico está no fato de que a pessoa não quer trair. Se a pessoa está satisfeita com isso, pode até ser saudável. Mas, quando você se queixa disso – porque não é o que você quer, mas o que você pode fazer –, aí você começa a afetar a esfera subjetiva e, a longo prazo, até a saúde mental.

Investigou também a identidade e subjetividade do jornalista. O que concluiu?
O jornalista continua tendo uma identidade idealizada. Se você perguntar à população o que ela pensa sobre o jornalista, vai se falar que é um sujeito que denuncia, que sabe das coisas, enfim, a representação social é positiva. Por outro lado, a identidade real deste jornalista, sua vida concreta, é precarizada. Então há um gap, uma distância muito grande entre a identidade pessoal a representatividade social. Isso torna o jornalista muito inseguro e frustrado. 

Quais as consequências disso?
Ele se sente decepcionando com toda a população que o idealiza. Na última pesquisa, ficou muito clara a questão da culpa. Com a dificuldade na carreira, a pessoa começa, em sua narrativa pessoal, a puxar fatos do passado que são pueris. "Ah, eu me lembro que um redator me chamou para trabalhar e eu não fui." E isso dura anos. Ou seja, é infantil. Aí ele pode cair numa armadilha de achar que cometeu um erro estratégico no passado. E, agora, com maiores sacrifícios, ele decola. É uma maneira de ele pagar uma conta que ele tem com ele mesmo. A gente chama isso de dívida psíquica. É aí que ele se arrebenta para valer. 

Há saída para atenuar todos esses aspectos de tensão?
Deixar a profissão não é tão simples, demanda um planejamento a longo prazo. A única maneira de diminuir isso é começar a dialogar mais sobre isso, e nisso os sindicatos da categoria têm um papel importante. É uma categoria que continua sendo muito desunida.

A fraqueza política dos sindicatos tem a ver com isso?
Acho que contribui. É uma situação complexa porque, na medida em que as pessoas acabam não acreditando no poder das associações, estas associações acabam se tornando fracas. Uma associação não é uma abstração. Como eu não colaboro, a associação continua sendo fraca e ineficaz. Como não há uma correlação positiva de forças com essas grandes corporações que estabelecem o modo de vida do jornalista, elas trabalham totalmente independente da legislação. A legislação é clara: são cinco horas, mais duas. Mas eu nunca vi um caso de um jeito trabalhando sete horas. Eu vi 10, 12, 14 horas. Essas organizações acabam atuando à revelia da legislação. Ou você começa discutir isso para valer, ou não muda nada. Até porque a nova geração de jornalistas têm, realmente, aceitado qualquer jogo.

Fonte: http://portalimprensa.uol.com.br -Guilherme Sardas

Márcia Canêdo

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sexta-feira, 15 de março de 2013

Dicotomias Comunicacionais

Recentemente, a presidente Dilma Rousseff elevou o tom contra as altas taxas de juros praticadas pelos bancos brasileiros. Além da crítica contundente, ela também tinha em mente proteger o País dos efeitos da crise mundial que voltam os olhos para o setor financeiro internacional. Naquele momento a Federação Brasileira dos Bancos emitiu relatório, assinado pelo seu economista chefe, Rubens Sardenberg, que colocou mais lenha na fogueira. No documento escreveu que “....você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”. A licença poética levou a ruidosos entendimentos. Em meio à velha polêmica sobre os altos juros e a boa lucratividade do setor no país o governo interpretou a frase como provocação. Para ajudar a melhorar o clima, no dia 22 de maio, o Banco do Brasil anunciou redução de juros para financiamento de veículos. Era a terceira baixa em dois meses. O BB abriu a temporada de corte de juros, seguido pela Caixa Econômica Federal e, depois, pelos bancos privados.

Já no final de maio, computando a queda resultante da “guerra dos juros”, o Brasil perdeu para a Venezuela o posto de maior taxa de juros nominais do mundo (Exemplos: Brasil 9%, Chile 1,4%, EUA 0,25%, Japão 0,1%). E ainda se mantinha em segundo lugar, perdendo apenas para a Rússia, na taxa de juros reais. O rotativo, do cartão de crédito, chegava a 15.98% ao mês e o do cheque especial a 9,98%. No mesmo mês da queda dos juros, o Brasil tinha 14 milhões de famílias (quase um quarto do total) que já comprometiam um terço da renda mensal só com as dívidas. Os leiloeiros tinham seus pátios lotados de carros vendidos a prazo e depois confiscados por falta de pagamento.

Pesquisa da Fundação Procon-SP mostrou que os principais problemas reclamados pelos consumidores são: cobrança indevida e não cumprimento ou alteração unilateral de contrato. Os bancos e as empresas de telefonia celular lideram essas listas, com 42% do total das reclamações recebidas pelo órgão no primeiro trimestre desse ano. As reclamações bancárias somaram 5.970 nos três primeiros meses do ano passado e chegaram a 7.517 nesse trimestre de 2012. No Ranking dos fornecedores que menos atendem aos consumidores, no Cadastro Nacional de Reclamações Fundamentadas 2010, entre as 30 empresas listadas, 12 eram instituições financeiras. O Cadastro Nacional é resultado do trabalho que diariamente os Procons de todo o Brasil realizam atendendo às reclamações. Ele é expressão da fala do consumidor sobre os principais problemas que enfrentam no mercado. A área Assuntos Financeiros é uma das quatro mais reclamadas do SINDEC (Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor), entre as dez mais de todas as áreas. O volume de registros levou a estudo detalhado, em capítulo próprio no relatório analítico.

Levantamento do Ministério da Fazenda tendo como base informações do Banco Central e do IFS (International Financial Statistics) mostrava que o spread bancário brasileiro - além do lucro, é composto pela taxa de inadimplência, custos administrativos, depósitos compulsórios e tributos cobrados pelo governo federal, entre outros -, estava em 28,5 pontos percentuais nesse mês de junho. O spread é a diferença entre os juros cobrados pelos bancos nos empréstimos às pessoas físicas e jurídicas e as taxas pagas por eles aos investidores que colocam seu dinheiro em aplicações do banco. Nesse mesmo período o spread bancário estava em 5.9 pontos no Uruguai, 3.7 no México, 3.6 na Rússia, 3.2 na Austrália, 3.1 na China, 3 no Canadá, 1.8 na Coreia do Sul e 1 ponto percentual no Japão.

A eficiência das instituições financeiras e as condições favoráveis levaram algumas a desfrutarem de invejados números, tanto nos seus consecutivos balanços como em outros indicadores. Com R$ 49,4 bilhões de lucro em 2011, os 25 bancos brasileiros de capital aberto tiveram um resultado 14,48% maior do que em 2010, de acordo com levantamento feito pela consultoria Economatica. No primeiro trimestre de 2012 o lucro dos 5 maiores bancos brasileiros chegou a R$ 11.685 bilhões.

Além de dívidas e juros, outra percepção para o consumidor é de que apesar de toda a fiscalização e informatização do setor e dos órgãos fiscalizadores de vez em quando aparecem problemas como rombos contábeis, intervenções e inquéritos como os do Banco Santos, Parnamericano ou Cruzeiro do Sul. Apesar de todo o desenvolvimento das TIs o cliente tem que decorar várias senhas e contra senhas, carregar tokens e instalar softwares, com suas contantes e lerdas atualizações. O cliente que se acostumou a evitar filas e utilizar caixa eletrônico nota que eles sumiram da paisagem em função da onda de ataques e da falta de blindagem eficiente. Apesar de todos os números, mais de um terço dos brasileiros ainda não possui conta em banco e 78% da população prefere usar dinheiro como meio de pagamento. Os dados são da pesquisa IBOPE, publicada em junho, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria.

Para quem não conhece as importantes ações sociais e culturais de algumas dessas instituições, a percepção pode se resumir a esse tipo de informação veiculada pela imprensa, às filas nos dias de pagamento, às situações às vezes constrangedoras das portas automáticas, da exigência de Lei para oferecer banheiros e bebedouros aos correntistas e, mesmo, a cobrança para que o veículo do cliente possa ser estacionado em algumas agências bancárias.

Na publicidade do setor, várias vezes premiada, vemos belas produções que exaltam qualidades como estar entre os maiores do mundo, outros entre os mais valiosos, ou mais admirados, ou sustentáveis, sólidos, confiáveis etc. Nas palestras e seminários de Marketing, RP e Comunicação ouvimos representantes exaltando premiações, governança, ações sociais, RH de primeira, Call Center 3.0 e dedicação aos clientes. Tudo ricamente ilustrado por fotos que remetem a bem estar.

Como cliente bancário há quatro décadas e como quem acompanha os fatos do Marketing e da Comunicação creio que colaboradores, acionistas e correntistas desfrutem de diferentes interpretações em relação à visão e aos atributos apresentados. Podem ocorrer dicotomias naturais em um grande mercado, mas elas deveriam ser melhor avaliadas. Um pouco mais de franqueza nas apresentações dos palestrantes nunca é demais. Reflexões sobre a auto-imagem também são bem vindas. É preciso saber se o que deseja está próximo do que desfruta. Como a empresa é notada pode ser diferente de como imagina ser vista.

O comunicador não deve se restringir aos intangíveis. Temos apreciações intangenciáveis para estabelecer, com maior clareza, o que é uma empresa. Percepção e avaliação nem sempre caminham juntas. E isso é válido para todos os setores da economia. 



Texto: Marcos Ernesto Rogatto é jornalista e trabalhou na Revista Veja e TV Globo São Paulo. Atualmente é diretor da produtora Vista Multimídia. É formado pela PUC Campinas, cursou Ciências Sociais na Unicamp e fez Mestrado em Multimeios também na Unicamp.
Fonte: http://www.aberje.com.br/

Márcia Canêdo

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quinta-feira, 14 de março de 2013

Nem tudo que reluz é ouro...


Existe um fascínio exacerbado pela tecnologia e suas modernas soluções para a comunicação organizacional. O louvor das novas mídias, especialmente a internet, leva à perda da noção crítica e da relativização dos benefícios. 
É positivo termos tantos canais de comunicação e mídias convergentes, em que todos podem virar autores. Publicamos, postamos e lemos com muito mais facilidade, o que é bem interessante, apesar dos muitos plágios e repetições. Mas, como perguntou Caetano Veloso nos anos 60 - em sua bela música Alegria Alegria -, podemos nos perguntar em 2012: Quem lê tanta notícia ? 

O Facebook foi o maior publisher da mídia digital no ano passado: em dezembro, os visitantes gastaram, em média, 4,8 horas no site, ante os 37 minutos do mesmo período de 2010. A visualização de vídeos online cresceu 74% e os brasileiros viram 4,7 bilhões deles. Isso consolida o segmento como uma das atividades online mais importantes da internet. Os dados são do relatório anual sobre as tendências digitais do Brasil, o “2012 Brazil Digital Future in Focus”, da ComScore. 


Abordagem interessante a da jornalista Natasha Singer, no The New York Times. Em artigo recente, afirma ser muito provável que a Acxiom Corporation saiba muitas coisas sobre nós - como idade, raça, sexo, peso, altura, estado civil, escolaridade, tendência política, hábitos de consumo, preocupações com a saúde, sonhos e assim por diante - do que sabem os nossos amigos. Para isso a empresa “de marketing de bancos de dados” (sic) utiliza mais de 23 mil servidores que capturam, comparam e analisam dados de consumidores. Seus servidores processam mais de 50 trilhões de “transações” por ano, em cerca de 1.500 categorias de dados por pessoa. Esta coleta e análise em grande escala tem como clientes grandes bancos, montadoras, pretrolíferas, grandes redes – e todas as companhias importantes que procuram conhecer muito bem os clientes. No Brasil, a Acxiom, afirma ter o registro de 175 milhões de pessoas !

Eli Pariser, autor do livro O Filtro Invisível, é um ativista digital que vem alertando contra a personalização em sites do gênero Facebook e Google. Segundo ele os resultados são filtrados para cada pessoa. Exemplo disso é que duas pessoas podem estar procurando a mesma palavra no mesmo momento e receberem resultados muito diferentes. Formas sutil de censura, que ele denomina de filtro invisível, na qual o internauta não é proibido de ver nada, mas a sua atenção é dirigida de forma que não perceba que a informação existe. Para Pariser há um dilema ético nessas formas como os resultados de busca são apresentados. 

Além de questões éticas e da privacidade, creio que excessos de canais podem ser o tal tiro pela culatra. Com a avalanche de informação, temos os plágios, repetições exaustivas e a falta de conteúdos criativos. Hoje os norte-americanos confiam bem pouco nas principais organizações de notícias dos Estados Unidos, revelou pesquisaelaborada pela Pew Research Center For The People and The Press. Em 2012 os veículos jornalísticos atingiram o menor grau de credibilidade da última década: 44% dos entrevistados atribuem nota 1 e 2 (negativa) para os meios. Em 2002 eram 30%. 

O sociólogo francês Dominique Wolton, um dos expoentes atuais das reflexões sobre a comunicação e na crítica da Web, alerta que o progresso tecnológico não significa, por si só, o avanço da comunicação humana e social. Para ele a mídia está submetida a uma dupla influência muito forte com a pressão econômica, através da concentração e a influência dos políticos que querem controlá-la. A elite dos jornalistas e das empresas de comunicação está muito próxima da classe dirigente. 
O Diretor do Laboratório de Informação, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, afirma que a concorrência entre as mídias faz com que todos tratem do mesmo assunto. Esse comportamento mimético acabaria por diminuir a confiança que o público tem no jornalista. Seria necessário um jornalismo menos autoreferente e com  postura reflexiva sobre todos os problemas da sociedade. 

Para Wolton, a internet é o “Titanic da cibercultura” pois vê nessas tecnologias contemporâneas de comunicação uma ilusão de contato que, na verdade, fecha cada um sobre si mesmo. Em seu livro Informar não é Comunicar trata dessas questões e da idolatria da internet que tem por trás grupos poderosos e às vezes interesses escusos, coisas que poucos conseguem enxergar. 

Outro autor crítico interessante é David Rothkopf, que dirige a revista Foreign Policy e escreveu livros como Power, Inc. Nesta última publicação cita exemplos de como empresas gigantes podem se tornar empecilho ao funcionamento dos Estados. Segundo o jornalista, dos 193 países membros das Nações Unidas, 161 tem menos recursos que as 2 mil principais empresas do mundo. O crescimento das corporações pode não trazer problemas se não influenciarem resultados políticos, regulamentação de mercados financeiros etc. Mas, segundo ele, o que não deveria acontecer, muitas vezes acontece. O governo deveria ser, além de provedor de serviços essenciais, um garantidor de jogo justo, cumpridor das leis anti corrupção, mantendo distância do dinheiro privado em campanhas públicas e limitando a capacidade de atores privados de fazerem lobby. 

Rothkopf cita exemplos como a Exxon Mobil, cujo faturamento anual se compara ao PIB Sueco, que tem orçamento dirigido especialmente aos direitos da população. Toda a soma que o país gasta em diplomacia é menor do que a companhia gasta em relações públicas. Ela opera em mais localidades do que as que têm embaixadas da Suécia. 

Em 2000 Naomi Klein publicou Sem Logo - A Tirania das Marcas em Um Planeta Vendido. Em visão cética, construiu formulações sobre o reino das marcas. Abordou os efeitos negativos que o marketing pode ter na cultura, no trabalho e nas escolhas do consumidor, mostrando como multinacionais convertem o mundo em uma oportunidade de mercado. O livro se transformou em manifesto do movimento antiglobalização, ao relatar pressões impostas pelas grandes empresas sobre seus trabalhadores. 

Klein hoje escreve sobre questões como culture jamming e reclaim the streets. Apologiza o movimento que se posiciona contra os efeitos negativos da globalização sobre a vida urbana em sociedade. Coloca-se contra o automóvel como modo predominante de transporte e contra certa corrida tecnológica e produtiva que fez os trabalhos de fabricação passarem para países estrangeiros, em locais conhecidos como zonas de processamento de exportação, sem leis trabalhistas e em péssimas condições de trabalho. Como influência dessa corrente do pensamento, hoje temos movimentos como o Occupy, cujos participantes se rebelavam contra um tipo de capitalismo predatório. 

Em um livro mais antigo, o Ideologia da Sociedade Industrial, Herbert Marcuse repetiu a crítica ao racionalismo da sociedade moderna, e tentou esboçar o caminho que poderá nos afastar dele. Representante da Escola de Frankfurt, já relacionava avanço tecnológico e reprodução da lógica capitalista, com ênfase no consumo. Para ele o problema da sociedade moderna é a invasão da mentalidade mercantilista e quantificadora a todos os domínios do pensamento. Essa mentalidade se representa economicamente pelo valor de troca, ligado de modo íntimo aos processos de alienação do homem. Marcuse se preocupava com o desenvolvimento descontrolado da tecnologia, o racionalismo dominante nas sociedades modernas, os movimentos repressivos das liberdades individuais e o aniquilamento da Razão.
Em outro clássico Apocalípticos e Integrados, Umberto Eco analisava essa divisão frente à cultura de massa e a indústria cultural. De um lado a análise de que massificação da produção e do consumo constituíam a perda da essência da criação artística. Do outro lado aqueles que acreditavam vivermos enormes avanços, incentivo à criatividade e fortalecimento da democracia. 

Hoje com tantos jogos, chats e aplicativos sabemos que eles podem ter caráter viciante. A busca pelo equilíbrio na era digital fez surgir movimentos como o Wisdom 2.0. Em suas conferências seus integrantes abordam o que consideram o grande desafio do nosso tempo: fazer dos conectados, através da tecnologia, uma forma benéfica para o próprio bem-estar, eficaz em nosso trabalho, e útil para o mundo. 

Já é consenso que tecnologia demais faz mal à saúde. Nas conferências e entrevistas podemos notar que até os líderes e o alto escalão das grandes empresas de tecnologia têm manifestado preocupação com a intensidade do uso desses dispositivos e como estão prejudicando a produtividade e as interações pessoais. 

Alain de Botton é outro crítico da superficialidade do ambiente digital. Ele afirma que “companhias nervosas querem sempre entender o que é a mídia social. Mas se você observar de perto, na verdade as pessoas são bizarras”. Para o filósofo e escritor, que soma quase 240 mil seguidores no Twitter, o digital é apenas uma ferramenta de tecnologia.

Em entrevista durante a sua participação na Flip 2012 o escritor Jonathan Franzen afirmou que especialmente os jovens estão fascinados pela tecnologia como promessa de realização pessoal. Eles seriam mais contaminados por esse universo da imagem e da técnica, que não combina com o mundo real. “A tecnologia não cura a angústia” lembra o premiado autor. 

É certo que, nas palavras de Eco, estou sendo mais apocalíptico que integrado, ao citar autores dissonantes. Seria mais fácil utilizar os do discurso entusiasta, que encaram a tecnologia como o êxtase da Comunicação. Esses são bem mais abundantes. Mas, para evitarmos falências narrativas, é sempre bom termos visão crítica e considerar que, como no velho ditado, nem tudo que reluz é ouro. 



Texto: Marcos Ernesto Rogatto é jornalista e trabalhou na Revista Veja e TV Globo São Paulo. Atualmente é diretor da produtora Vista Multimídia. É formado pela PUC Campinas, cursou Ciências Sociais na Unicamp e fez Mestrado em Multimeios também na Unicamp.
Fonte: http://www.aberje.com.br/

Márcia Canêdo

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terça-feira, 12 de março de 2013

50 Tons de Tabu


Há muito tempo não via um livro dar tanta polêmica quanto a Trilogia dos 50 Tons tem gerado nos últimos meses. Muitos anos atrás “A Dama das Camélias”, publicado em 1848, um romance do escritor Alexandre Dumas Filho causou frisson entre as moçoilas  e esposas na época de sua publicação. A história tem cunho autobiográfico, Dumas Filho inspirou-se em suas próprias relações com a cortesã Marie Duplessis, e ainda no fato de ser ele próprio filho ilegítimo de Alexandre Dumas. Experimentando a rejeição, encontrou ao lado da amante a estabilidade que necessitava, e que veio a ser-lhe o mote para o romance. O nome Dama das Camélias é devido ao fato de Margarita gostar de receber apenas um tipo de flor, a camélia. A obra é ambientada na revolução de 1848, na França. Retrata o romance entre Margarita Gautier, a mais cobiçada cortesã parisiense, e Armando Duval, um jovem estudante de Direito. O jovem Armando pertence à uma família aristocrática da Paris do século XIX. Ele apaixona-se pela cortesã Margarita. Mesmo diante da intolerância de sua família e do preconceito social, eles tentarão viver sua história de amor.

Posteriormente em 1857, Madame Bovary , um romance escrito por Gustave Flaubert resultou num escândalo ao ser publicado. Quando o livro foi lançado, houve na França um grande  interesse pelo romance, pois levou seu autor a julgamento acusado de ofensa à moral e à religião.  O romance contava a história de Emma, uma mulher sonhadora pequeno-burguesa, criada no campo. Bonita e requintada para os padrões provincianos casa-se com Charles, um médico do interior muito apaixonado pela esposa, porém uma pessoa entediante. Nem mesmo o nascimento da filha dá alegria ao casamento ao qual a protagonista se sente presa. Emma, cada vez mais angustiada e frustrada, acaba encontrando no adultério uma forma de encontrar a liberdade e a felicidade. Apesar da intensa procura de uma vida digna, e o fato dela não se dar valor, dificilmente consegue sentir-se satisfeita com o que é e o que tem.

Em 2011 quem revolucionou o mundo da literatura foi o romance erótico bestseller da autora inglesa Erika Leonard James de nome 50 Tons de Cinza, primeiro livro de uma trilogia. A obra vem deixando homens alvoroçados que não entendem o fenômeno Christian Grey que fez com que o livro vendesse mais de 10 milhões de cópias mas primeiras seis semanas.  Publicado em 47 países, sendo no Brasil pela Editora Intrínseca a obra retrata a vida de Anastasia Steele, uma virgem de 21 anos estudante de Literatura que, após entrevistar o magnata para o jornal da faculdade, se interessa pelo mesmo e é correspondida. Com uma trama que se desenrola em Seattle,  em meio ao luxo, a protagonista  descobre, por meio de Christian Grey, o mundo do sadomasoquismo, descrito através de uma linguagem simples próprias dos romances. A autora mostra no decorrer da história detalhes da prática de  bondage,  sadismo e masoquismo.

Porém antes de simplesmente ser considerado um livro erótico, o que vem incomodando a muita gente são as quebras de tabus que muitos insistem em manter. Seria o caso que a pessoa até pode praticar as técnicas descritas no livro só que escondido para que ninguém fique sabendo, o que retrata a hipocrisia tão arraigada em nossa sociedade machista. Na realidade a obra nada mais que retrata um romance insólito entre um homem bonito, extremamente rico e bem sucedido em seu trabalho e uma jovem inacreditavelmente virgem aos 21 anos e recém-saída da faculdade e vinda da classe média. Trazendo para o mundo real este romance teria mínimas chances de dar certo, mas a função do livro não é justamente nos levar a viajar sem sair do lugar?! Então qual o problema se este romance não daria certo fora das páginas e de nossa imaginação??!! Christian Grey é simplesmente o homem dos sonhos de todas as mulheres (ou pelo menos de 9 em 10 mulheres...rsrs) , não é a toa que a trilogia foi escrita por uma mulher e o sucesso que vem fazendo se deve ao fato dele fazer o máximo para agradar a “mocinha da história”. Até mesmo a pegada erótica que vem incomodando tanto aos homens de modo geral, é o objeto de desejo das mulheres sexualmente bem resolvidas. A mulher moderna já admite o que gosta de fazer em sua intimidade, não deixa mais tudo nas mãos dos homens e isso nem sempre é bem visto pela sociedade. 

Portanto antes de se chocar com Damas das Camélias, Madames Bovarys e Christians Greys da ficção deveriam se incomodar com as falcatruas de nossos políticos, crimes sem solução, roubos no orçamento público que nunca foram resolvidos e outros tantos absurdos que encheriam algumas páginas de texto se os fossem descrever.  A trilogia 50 Tons de Cinza não foi a primeira e nem será a última obra literária a incomodar então que as editoras e escritores aproveitem a deixa e lancem boas obras quebrando mais tabus de nossa sociedade. Que fique bem claro: não estou dizendo para que escritores plagiem a obra, mudando nomes e profissões dos personagens principais e sim que aproveitem para quebrar outros tantos tabus que ainda incomodam e merecem ser discutidos e revistos. Cópias descaradas já existem, porém dificilmente alcançaram o mesmo sucesso de vendas que a autora E. L. James conseguiu.             

 Márcia Canêdo

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sexta-feira, 8 de março de 2013

A Presença da Mulher no Espiritismo

Por motivos que extrapolam a própria formação do planeta – na polaridade masculino/feminino dos ocidentais ou Yin e Yang do tradicional conhecimento oriental, o pólo menos valorizado foi o que corresponde à mulher e em muitos recantos do planeta continua sendo uma realidade. Até na mitologia religiosa da Gênese humana a mulher é tida como um apêndice, pois foi criada a partir de uma costela do Adão (figura que simboliza o início da raça adâmica). Aspectos mitológicos à parte, nosso interesse é a respeito do que a mulher dita moderna pode fazer por si própria e pela condição espiritual de encontrar-se hoje habitando um corpo feminino com todos os seus direitos e obrigações. Que fique bem claro: com todos seus direitos plenamente exercidos e obrigações cumpridas de forma voluntária.

Primeiro vamos ver um pouco da parte histórica da mulher:

A mulher no Antigo Testamento: Na Bíblia a mulher é sempre inferior em relação ao homem, obviamente um comportamento que denota um ‘desvio de rota’ debitado à mentalidade dos homens em nada se relacionando à vontade de Deus. Naquele tempo, a sociedade era organizada de forma extremamente machista  e a mulher está retratada no Livro Sagrado quase sempre como uma personagem inexpressiva.O patriarcado, que é o reconhecimento dos direitos do pai sobre sua família, servos, mulher e propriedade, deu ao homem, detentor da força bruta, física, também o poder sobre suas mulheres: poder de vida e morte.

O Novo Testamento - Cristo e as mulheres: Também no Novo Testamento a presença austera e sufocante do patriarcado se faz notar, por exemplo, no tratamento dispensado a Madalena, que fora confundida e retratada posteriormente como prostituta, sendo que, em nenhuma passagem dos evangelhos,isto se verifica. Essa confusão persiste até os dias de hoje, e devesse muito mais à tradição oral e o nível de educação e conhecimento das palavras do Novo Testamento pelas pessoas, em geral. A história registra em vários outros momentos que, quando uma mulher incomodava por demais, a maneira de ‘exterminá-la’ era denegri-la moralmente,rebaixando-a para a condição de herege, prostituta ou bruxa. As fogueiras da Inquisição que o digam. Jesus subverteu o tratamento dispensado às mulheres que O seguiam, tornando-as suas amigas, discípulas, seguidoras. Entre essas estavam mulheres comuns, enfermas ou pecadoras, e Jesus concedia-lhes a mesma atenção e os mesmos direitos que lhes eram negados pelos homens.

A mulher na Doutrina Espírita : E em relação à Doutrina Espírita, qual é o papel que esta reserva às mulheres? Haveria algo semelhante a uma Teologia Feminista dentro da perspectiva espírita? Em comparação com as demais religiões conhecidas dentro da tradição judaico-cristã, ela não segue a tendência das demais em atribuir às mulheres o papel de submissão, ou relegá-las ao silêncio dentro dos locais de culto, os centros espíritas. É, pois, uma doutrina muito mais liberal em relação às mulheres.
O que justifica essa atitude é justamente um dos pilares que a sustentam, ou seja, a crença na palingenesia, ou a lei do eterno retorno (reencarnação), o que, segundo sua crença, dá a oportunidade do espírito, imorredouro, estar num ou noutro sexo. Como explica as perguntas 201 e 202 de O livro dos Espíritos. P. 201. “O espírito que animou um corpo de um homem, em uma nova existência, pode animar o de uma mulher, e vice-versa?” – “Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres”.
P. 202 “Quando se é Espírito, prefere-se encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher?” –“Isso pouco importa ao Espírito; ele escolhe segundo as provas que deve suportar. Os Espíritos se encarnam homens ou mulheres porque eles não têm sexos. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhe oferece provas e deveres especiais, além da oportunidade de adquirir experiência. Aquele que fosse sempre homem não saberia senão o que sabem os homens”.

Neste sentido defende que não seríamos homens ou mulheres e sim que estaríamos como homens ou mulheres, entendendo-se que para a completa evolução intelectual e moral do ser humano, teríamos que experimentar as dores, os prazeres, as limitações de ambos os corpos sexuados, uma vez que o espírito não tem sexo. Estar num corpo sexuado, é, segundo a visão espiritista, uma aprendizagem necessária para a evolução do espírito que é eterno, em contraste com a vida corpórea que é perecível e passageira.
A filosofia e a moral espírita conclamam à liberdade e igualdade de direitos, pois o Espírito é dotado da faculdade de progredir, da faculdade do livre-arbítrio e da ciência do bem e do mal, não importando se este está encarnado num corpo de homem ou de
mulher.
Para a doutrina espírita, não há, portanto, distinção entre homens e mulheres, entendendo que Deus não relegaria as mulheres a uma posição de inferioridade baseada no ‘determinismo sexual’, como tantas vezes utilizado como justificativa para a ‘natural’ assimetria de poder e de oportunidades entre os dois sexos, naturalização das desigualdades, de toda discriminação, preconceito e violência que se cometeu, e ainda se comete contra as mulheres.
A natural justificativa para as desigualdades criadas socialmente para ambos, encontrou diversas justificativas, tanto as ‘científicas’, como na sentença de Freud em relação às mulheres quando diz: ‘anatomia é destino’, assim como nas justificativas de‘ordem divina’, protagonizado pelo patriarcado que incrementou o discurso religioso para oprimi-las e silenciá-las.
Na compreensão da doutrina espírita, entende-se que os excessos e abusos cometidos contra as mulheres são desvios de conduta pelo mau uso do livre-arbítrio, sustentando ainda que as mulheres não são as pecadoras, nem as infiéis, nem amorais, fracas, ciumentas, infantis ou vingativas, como entendidos no tratamento e na visão que se tinha delas na leitura dos textos bíblicos e na conduta do sacerdotado das igrejas cristãs em geral.
Os pressupostos que a sustentam: o da pluralidade dos mundos e das existências,dizem que a matéria é subordinada à vontade e às necessidades do espírito em constante evolução. Isso tem um alcance mais libertário em relação à mulher, pois se o espírito não tem sexo, tem-se na pluralidade das existências, igual chance de encarnar neste ou noutro corpo, não havendo, pois, prerrogativas de poder entre ambos. Para a doutrina espírita, todos são valorados em espírito, pois é ele quem progride, e não o corpo físico. É o espírito que, sendo eterno, único e indestrutível, é avaliado pelo bem que fez ou deixou de fazer, não importando em que corpo esteve ‘aprisionado’ em seus anos terrestres. Esclarece que é necessário para a evolução dos seres a reencarnação tanto num corpo físico de um homem ou no de uma mulher. O Espírito como realidade eterna está em constante evolução, para tanto deverá buscar o equilíbrio entre estas duas polaridades – a masculina e a feminina. Acreditamos que essa visão mais tolerante em relação ao sexo feminino, tem também outra explicação que não somente a realidade do espírito. Essa igualdade de funções e de papéis dentro da doutrina espírita reside na maneira pela qual ela se organiza estruturalmente, pois não tem uma classe sacerdotal organizada – prerrogativa de poder para os homens, o que libera as mulheres dos falíveis dogmas humanos, para a livre aceitação do trabalho e dos estudos. A situação das mulheres de outras denominações religiosas, que não têm os mesmos direitos à hierarquia do poder em suas igrejas, nem nas decisões humanas tomadas no seio da comunidade, é distinta, como sabemos.

A doutrina adota em sua moral religiosa o princípio cristão do ‘amai-vos uns aos outros’, lembrando a seus adeptos da necessidade do estudo, pois é através deste que se pode atingir as condições de aperfeiçoamento. No Evangelho Segundo o Espiritismo, o
Espírito da Verdade, assim se manifestou aos adeptos: Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instrui-vos, eis o segundo.” A importância dada aos estudos é notória quando observamos, nos primórdios desta doutrina, os nomes que ladearam o trabalho do Codificador. Eram artistas, literatos, astrônomos, filósofos, pensadores e cientistas, do peso de Victor Hugo, Ernesto Bozzano, Leon Denis, Camille Flammarion,  entre outros.
São de Flammarion – amigo de Kardec estas palavras escritas em Urânia, em que relata um mítico diálogo entre ele mesmo e a musa da astronomia, que, ganhando voz diz ao astrônomo: Saiba você que o Estudo é a única fonte de todo o valor intelectual. E o conhecimento do coração humano conduz à indulgência e à bondade; jamais sejas nem pobre e nem rico, livra-te de toda a ambição e assim de toda a servidão. Sê independente! A independência é o mais raro dos bens e a primeira condição de toda a felicidade (FLAMMARION [1889], 2004, p.39)
A doutrina espírita, portanto, antes de separar corpos e pessoas em função de seus diferentes sexos, raça ou origem, os une em Espíritos que, anseiam pela igualdade em evoluir conforme a lei de progresso e evolução, que, segundo sua crença, sujeita à todas e todos, indistintamente.




Quem são elas?

Elas sorriem quando querem gritar.
Cantam quando querem chorar.
Choram quando estão felizes e riem quando estão nervosas.
Elas brigam por aquilo que acreditam e se levantam contra a injustiça.
Não aceitam um não como resposta quando acreditam que há uma solução melhor.
Elas andam sem sapatos novos para que suas crianças possam tê-los.
Vão ao médico fazer companhia a uma amiga assustada...
Amam incondicionalmente...
Choram quando suas crianças adoecem e se alegram quando ganham prêmios.
Seus corações se quebram quando um amigo ou familiar morre, mas são donas de uma força descomunal quando nem elas mesmas acreditam que ainda hajam forças.
Sabem que um abraço e um beijo podem curar um coração quebrado.
Estão nas salas de aulas, dando as primeiras lições à infância; nos hospitais, amparando enfermos e nos esportes, arrancando aplausos.
Multiplicam-se em orfanatos, velhanatos, sanatórios e albergues, socorrendo e amparando com suas mãos operosas...
Podem ser encontradas também na lavoura, arando a terra, distribuindo sementes e fazendo a colheita...
Se a enfermidade as visita, ainda assim não se revoltam nem se desesperam. Suportam as dores com resignação e coragem.
Quando abandonadas, lutam sozinhas, sofrem caladas e dão a volta por cima.
Machucadas, escondem as feridas, disfarçam a dor e seguem em frente.
Elas estão em todos os lugares do mundo...
São de todos os tamanhos, todas as cores e formas...
Elas são as mulheres...
Elas irão dirigir, voar, andar, correr ou lhe mandar um e-mail, para mostrar o quanto se importam com você.
Uma mulher faz mais do que dar a vida. Ela traz alegria e esperança e seu coração faz o mundo girar...
As mulheres são adeptas da compaixão e sabem cultivar ideais...
A mulher, tão desprezada pelo homem ao longo dos milênios, hoje assume o lugar que lhe pertence nos cenários do mundo.
Agora o homem reconhece que, se ele é o cérebro, a mulher é o coração. O cérebro produz luz, o coração, o amor.
A aspiração do homem é a suprema glória, a aspiração da mulher, a virtude extrema. A glória traduz grandeza, a virtude traduz divindade.
O homem é capaz de todos os heroísmos e a mulher é capaz de todos os martírios. O heroísmo enobrece e o martírio sublima.
Se o homem é um oceano, a mulher, um lago. O oceano tem a pérola que o embeleza, o lago tem a poesia que o deslumbra.
Enquanto o homem é a águia que voa, a mulher é o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço, mas cantar é conquistar a alma.
O homem tem um farol: a consciência; a mulher tem uma estrela: a esperança. O farol guia, a esperança salva.
Enfim, o homem está colocado onde termina a Terra e a mulher, onde começa o Céu.
E por mais que o homem seja forte e invencível, enfrente ventos e tempestades, é nos braços de uma mulher que ele procura paz e segurança.

Redação do Momento Espírita com base no texto Mulheres, de autor desconhecido e em poesia de Victor Hugo.

Referência:  Revista Brasileira de História das Religiões – Ano I, n. 3, Jan. 2009 - Dossiê Tolerância e Intolerância nas manifestações religiosas

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