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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A CASA DA VIDA -WALCYR CARRASCO


Nesta época, gosto de tratar da vida. Dou a roupa que não uso mais. Livros que não pretendo reler. 
Envio caixas para bibliotecas. Ou abandono um volume em um shopping ou café, com uma mensagem: "Leia e passe para a frente!". Tento avaliar meus atos através de uma perspectiva maior. 
Penso na história dos Três Porquinhos. Cada um construiu sua casa. Duas, o Lobo derrubou facilmente. Mas a terceira resistiu porque era sólida. Na minha opinião, contos infantis possuem grande sabedoria, além da história propriamente dita. Gosto desse especialmente.
Imagino que a vida de cada um seja semelhante a uma casa. Frágil ou sólida, depende de como é construída. Muita gente se aproxima de mim e diz:
- Eu tenho um sonho, quero torná-lo realidade!
Estremeço. Frequentemente, o sonho é bonito, tanto como uma casa bem pintada. Mas sem alicerces. 
As paredes racham, a casa cai repentinamente e a pessoa fica só com entulho. Lamenta-se. 
Na minha área profissional, isso é muito comum. Diariamente sou procurado por alguém que sonha em ser ator ou atriz sem nunca ter estudado ou feito teatro. Como é possível jogar todas as fichas 
em uma profissão que nem se conhece? Há quem largue tudo por uma paixão. 
Um amigo abandonou mulher e filho recém-nascido. 
A nova paixão durou até a noite na qual, no apartamento do 10º andar, a moça afirmou que podia voar.
- Deixa de brincadeira - ele respondeu.
- Eu sei voar, sim! - rebateu ela.
Abriu os braços, pronta para saltar da janela. Ele a segurou. Gritou por socorro. 
Quase despencaram. 
Foi viver sozinho com um gato, lembrando-se dos bons tempos da vida doméstica, do filho, da harmonia perdida!
Algumas pessoas se preocupam só com os alicerces. Dedicam-se à vida material. 
Quando venta, não têm paredes para se proteger. Outras não colocam portas. 
Qualquer um entra na vida delas. 
Tenho um amigo que não sabe dizer não (a palavra não é tão mágica quanto uma porta blindada). 
Empresta seu dinheiro e nunca recebe. Namora mulheres problemáticas. 
Vive cercado de pessoas que sugam suas energias como autênticos vampiros emocionais. 
Outro dia lhe perguntei: Por que deixa tanta gente ruim se aproximar de você?
Garante que no próximo ano será diferente.
Nada mudará enquanto não consertar a casa de sua vida.
São comuns as pessoas que não pensam no telhado. 
Vivem como se os dias de tempestade jamais chegassem. Quando chove, a casa delas se alaga. 
Ao contrário das que só cuidam dos alicerces, não se preocupam com o dia de amanhã. 
Certa vez uma amiga conseguiu vender um terreno valioso recebido em herança. 
Comentei: - Agora você pode comprar um apartamento para morar.
Preferiu alugar uma mansão. Mobiliou. Durante meses morou como uma rainha. 
Quase um ano depois, já não tinha dinheiro para botar um bife na mesa!
Aproveito as festas de fim de ano para examinar a casa que construí. 
Alguma parede rachou porque tomei uma atitude contra meus princípios? 
Deixei alguma telha quebrada? Há um assunto pendente me incomodando como uma goteira? 
Minha porta tem uma chave para ser bem fechada quando preciso, 
mas também para ser aberta quando vierem as pessoas que amo? 
É um bom momento para decidir o que consertar. 
Para mudar alguma coisa e tornar a casa mais agradável.
Sou envolvido por um sentimento muito especial. 
Ao longo dos anos, cada pessoa constrói sua casa. 
O bom é que sempre se pode reformar, arrumar, decorar! 
E na eterna oportunidade de recomeçar reside a grande beleza de ser o arquiteto da própria vida!


 Recebi este texto outro dia e apesar de já ter passado o período de Ano Novo, acho que renovação é pro ano todo. Como kardecista eu creio que a cada escrevemos nossa história e o resultado dela é alcançado a partir de nossas escolhas através do Livre Arbítrio. 
Vamos então galera aproveitar estas reflexões tão bem escritas pelo Walcir e tentar, eu disse ao menos tentar, ser um pouquinho melhor a cada dia . Sejamos arquitetos de nosso destino e felizes a cada momento! 

Márcia Canêdo  
 

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domingo, 27 de janeiro de 2013

Portal da Transparência: jornalista britânica dá dicas de pautas para a imprensa brasileira


Gasto com cartões corporativos, remuneração de políticos, quantidade de licenças de porte de arma. No ar desde 2012, o Portal da Transparência, que regula o acesso à informação, trouxe novas oportunidades, principalmente para jornalistas. Já é possível ver na imprensa algumas reportagens produzidas com os dados solicitados por meio do projeto, mas ainda há muito que fazer. Pensando nisso, a repórter britânica Claire Miller, do Media Wales, postou em seu blog uma lista com sugestão de pautas para os profissionais brasileiros.
portal_da_transparencia_-_dicas
Questionamentos feitos por meio do portal devem ser respondido em até 30 dias (Imagem: Reprodução)
Especialista em transparência pública, Fabio Angélico indicou a lista para os associados da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e, assim, a entidade a compartilhou com todos os leitores do site. Segundo as informações, qualquer cidadão pode fazer pedidos a qualquer órgão público e a resposta deve ser concedida em até 20 dias, prorrogáveis por mais 10 se houver justificativa.
Veja abaixo as dicas:
*"Os itens marcados com asterisco na lista a seguir devem constar no Portal da Transparência ou no site do órgão público, de acordo com a Lei de Acesso (exceto em cidades com menos de 10 mil habitantes). Isso não impede, no entanto, que se faça o pedido de informação", segundo a Abraji.
1. Autoridades públicas
  • Gasto com alimentação*
  • Gastos com viagens e hospedagens*
  • Gastos com consultorias*
  • Gastos com cartões corporativos*
  • Gastos com telefones celulares (número e tipo de aparelhos disponíveis e os gastos separados por órgãos, para fins de comparação)*
  • Gasto com carros oficiais para o alto escalão (quantos são, custo da manutenção)*
  • Remuneração detalhada por itens (incluindo benefícios)
  • Bônus e extras pagos a autoridades
  • Valores dos benefícios de deslocamento/transporte (combustível ou vale-transporte, por exemplo)
  • Custo do café e lanches (biscoitos, etc.) consumidos em reuniões*
  • Restrições à realização de ligações particulares por secretários e servidores (se existem e qual é o limite; quanto foi gasto com elas)
  • Acidentes/batidas envolvendo veículos oficiais e custo dos reparos
  • Registros dos presentes em reuniões com autoridades
  • Ordens, orientações ou memorandos com restrições a declarações públicas (se existem, quantas e quais são)
  • Políticas de restrição ao uso do computador e acesso a redes sociais (se existem e quais são)
  • Ameaças a  autoridades públicas e/ou servidores (se há registros, quantos são e a que se referem)
  • Sites visitados pelos ministros/secretários e/ou servidores
2. Pessoal
  • Custo da realização de concursos públicos
  • Gasto (diário ou por hora) com contratações temporárias
  • Exonerações - compulsórias ou voluntárias, idade dos servidores afetados, motivos
  • Funcionários exonerados e que depois passaram a ocupar um novo cargo no órgão público (se houve casos, quantos foram e quanto custou a exoneração deles)
  • Quantos servidores se licenciam por causa de doença (incluindo stress), por quantos dias e qual o custo disso
  • Custo das greves
3. Finanças gerais
  • Custo do equipamento de TI do órgão (computadores, telefones, etc.)
  • Gastos com material de papelaria*
  • Política de dar preferência a compras em fornecedores locais (se existe, qual é)
  • Custo de projetos cancelados
  • Balanço da arrecadação de impostos
  • Custo de reformas de prédios públicos
  • Montante arrecadado em taxas e outras rendas decorrentes de óbitos (imposto de renda sobre heranças, imposto sobre transmissão causa mortis e doação etc.)
  • Montante arrecadado com venda de terrenos de propriedade do órgão público
  • Custo do aluguel de espaços para solenidades/festas de órgãos públicos
4. Serviços sociais
  • Quantidade de crianças resgatadas de situações de risco (pais viciados ou violentos, abandono, trabalho infantil, prostituição etc.)
  • Quantidade de crianças resgatadas que ainda estão sob a tutela pública
  • Reclamações contra servidores do serviço social e/ou conselheiros tutelares
  • Custo dos servidores do serviço social e/ou conselheiros tutelares
5. Planejamento e moradia
  • Quantidade de imóveis desocupados na cidade (pode-se pedir também quanto de arrecadação se perde com elas)
  • Quantidade de pessoas sem-teto
6. Lixo
  • Ruas com maior incidência de descarte irregular de lixo
  • Quantidade de multas dadas por descarte irregular de lixo (e quanto disso foi efetivamente arrecadado)
  • Gasto com contratação de serviço de coleta de lixo
7. Educação
  • Gastos com transporte escolar
  • Quantidade de crianças matriculadas em escolas e quantidade de crianças em idade escolar fora da escola
  • Gastos com professores temporários
  • Controle de pestes em escolas (se é feito, qual a periodicidade, qual é o custo)
  • O custo do crime nas escolas (depredações, assaltos etc.)
  • Ações disciplinares contra professores
  • Quantos professores se afastam por doença, por que período e quanto isso custa
  • Casos de ataques/violência contra professores (quantos, de que tipo, localização)
8. Universidades
  • Quanto tem sido pago em auxílios a estudantes, e de que tipo
  • Relatórios sobre o estado das instalações
  • Origem geográfica dos estudantes
  • Gastos com moradia para estudantes
  • Remuneração do reitor
9. Bibliotecas, centros de lazer, esporte e recreação
  • Gastos com aquisição de acervo para bibliotecas
  • Itens mais roubados/furtados de bibliotecas
  • Comportamentos antissociais relatados em bibliotecas
  • Gastos com esporte (por modalidade)
10. Animais
  • Quantidade de cachorros perdidos e abandonados encontrados pela prefeitura (e quantos foram reclamados pelos donos)
  • Número de ataques por animais relatados
  • Número de animais sacrificados
11. Segurança
  • Número de sequestros, motivação e tempo de manutenção da vítima como refém
  • Número de crimes cometidos por estrangeiros
  • Número de armas recolhidas pela polícia
  • Quantidade de licenças de porte de arma
  • Número de ocorrências policiais em equipamentos públicos como instituições de ensino, hospitais, estações de trem/metrô, centros de lazer, etc. e a que se referem
  • Ocorrências de estupro: quantas levaram a condenações e quantas não foram investigadas/investigação ainda não foi encerrada
  • Casos de exploração infantil
  • Quantidade de investigações em andamento e de investigações concluídas
  • Custo de cada investigação (solucionadas e não solucionadas)
  • Custo de uma investigação de destaque (caso Eliza Samúdio, Isabella Nardoni etc.)
  • Locais em que há maior taxa de solução de crimes/conclusão de inquéritos (exceto arquivamentos)
  • Número de fugitivos da Justiça (incluindo os crimes pelos quais foram presos e o tempo em que estão foragidos)
  • Gastos com perícia criminal
  • Custo de policiamento em passeatas e protestos
  • Acidentes envolvendo carros de polícia e o custo dos reparos
  • Custo do combustível para viaturas
  • Custo da segurança em instalações da polícia
  • Motivos para uso dos helicópteros da polícia
  • Reclamações contra policiais por racismo ou discriminação
  • Quantidade de policiais sob investigação e os motivos
  • Crimes cometidos por policiais (quantidade e tipos)
  • Gasto com cartão corporativo no alto escalão da polícia
  • Quantidade de policiais e outros funcionários de serviços de emergência que se afastam por stress e o custo disso
  • Tempos de atendimento de ocorrências
  • Roubos/furtos em instalações das Forças Armadas (quantos e o quê)
  • Quantidade de menores e jovens pegos em posse de drogas, e as idades deles
  • Itens confiscados em celas, especialmente celulares
  • Itens cuja posse é permitida nas celas (quais e em que quantidade existem)
  • Comida servida nas prisões (quanto custa, qual é a quantidade total)
12. Trânsito e transporte
  • Reclamações contra taxistas (quantas são, do que tratam)
  • Principais infrações de trânsito cometidas por taxistas, com as quantidades
  • Quantidade de táxis licenciados
  • Quantidade de carros apreendidos
  • Valor do prejuízo com calotes de multas de estacionamento
  • Quantidade de vagas de estacionamento nas ruas
  • Número de multas por uso irregular de vagas exclusivas para idosos e portadores de deficiência
  • Número de multas dadas a veículos oficiais (e motivos)
  • Maiores velocidades registradas por radares e onde
  • Períodos em que radares e câmeras de monitoramento de velocidade ficam desligados, e onde
  • Locais com maior e com menor ocorrência de multas por excesso de velocidade
  • Depredação de radares e câmeras de monitoramento de velocidade
  • As ruas com maior registro de acidentes
  • Ocorrências de quebra/defeito de ônibus, trens e metrôs
13. Saúde
  • Quantidade de médicos em hospitais durante a semana e aos fins de semana (os hospitais ficam desfalcados aos fins de semana? Em quanto?)
  • Gastos com funcionários temporários
  • Quantos funcionários e/ou médicos se afastam do trabalho por doença, por quanto tempo e quanto isso custa
  • Ataques a funcionários e médicos de hospitais e postos de saúde
  • Número de leitos disponíveis, e onde
  • Número de operações canceladas por falta de leitos
  • Frequência com que o hospital não pôde atender a uma gestante em trabalho de parto por falta de leitos
  • Quantidade e frequência de atendimento de ferimentos a bala
  • Número de cirurgias de redução de estômago realizadas pelo SUS
  • Relatórios de inspeção de hospitais
  • Número de casos de infecções hospitalares após cirurgia
  • Quantidade de crianças tratadas por transtorno de alimentação, e as idades delas
  • Existência de orientações para médicos não prescreverem antibióticos sem necessidade
  • Quantidade de pílulas do dia seguinte fornecidas a adolescentes em hospitais públicos e postos de saúde
  • Quantidade de comida distribuída em hospitais e seu custo
  • Acidentes com ambulâncias
  • Tempos de atendimento de chamados por ambulâncias
  • Furtos de ambulâncias
  • Gastos com arte e decoração em hospitais
14. Outros
  • Problemas de iluminação pública (quantidade de ocorrências, locais)
  • Ações de recapeamento de ruas (quantidade, localização e custos)
  • Número de acidentes ocorridos em prédios públicos
  • Ações de inspeção sanitária (estabelecimentos notificados, multados e fechados)
  • Quantidade de reclamações por causa de barulho e as áreas com maior número de reclamações
  • Gastos com enterros e cremações
  • Quantidade de vagas em cemitérios
  • Reclamações em relação a serviços públicos
  • Gasto com decoração de Natal

Fonte: Portal da Transparência do Governo Federal

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sábado, 26 de janeiro de 2013

Será a publicidade o motor da História? Por Eugênio Bucci


Será a publicidade o motor da História?  Por Eugênio Bucci 
O filme chileno No, de Pablo Larraín, foi exibido pela primeira vez no Brasil em outubro do ano passado, numa sessão exclusiva para convidados, na abertura da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Agora, no final de dezembro, entrou em circuito comercial. Grande vencedor da Quinzena dos Realizadores de Cannes 2012, o filme confirma nas salas brasileiras a sua carreira internacional vitoriosa. Agrada a espectadores de várias idades e vários recortes culturais.
Se o leitor habitual da página A2 do Estadão ainda não viu, deveria ver. O debate retratado na tela é do mais alto interesse para quem procura acompanhar os rumos políticos da democracia. O que é que a empurra numa direção ou noutra? Em que cadinho são sintetizadas as decisões coletivas? Qual o papel que a publicidade – ou, em termos um pouco mais amplos, o chamado marketing político – desempenha nesse jogo?
Para Karl Marx e Friedrich Engels, a luta de classes era o motor da História (grafada com H maiúsculo). Segundo a gente depreende do enredo brilhante de No, a coisa não é bem assim: o motor da história é uma mensagem bonita, vibrante de euforia, que “venda” bem. É nisso que o povo quer embarcar, é isso que o povo quer “comprar”. Moral da história (com h minúsculo), o motor da História, prezados camaradas, é a publicidade. Por essas e outras, o filme dá o que pensar – e dá margem a indagações um tanto perturbadoras.
Comercial de sabonete
Voltemos ao ponto de partida. No, como bom filme que é, trata de contar direito uma boa história; não tem nada de aula de ciência política, não é seminário de sociologia, não se perde em interpretações acadêmicas sobre os fatos que encadeia com esmero. O cineasta Pablo Larraín reconstitui com verossimilhança impressionante, num andamento de documentário, um fato histórico real: a campanha pelo “Não” (daí o título) realizada pelas oposições chilenas no plebiscito de 1988, que decretou o fim da ditadura de Pinochet.
O filme começa deixando claro que o que ocorreu ali foi um episódio, no mínimo, improvável. Internacionalmente pressionado a dar uma roupagem menos truculenta à sua tirania, o general Augusto Pinochet viu-se constrangido a convocar o plebiscito para consultar os cidadãos sobre se eles o queriam (ou não) no poder. No início da campanha o ditador posava de franco favorito, pois detinha o controle férreo sobre os meios de comunicação.
Com a autoconfiança típica do leão de chácara que virou dono da boate, Pinochet nem considerava a hipótese de derrota. Nisso, os integrantes das oposições concordavam com o carrasco: para quase todos eles, a hipótese de vitória era impensável. Acontece que, para dar uma aparência mais democrática ao plebiscito, o governo precisou conceder às oposições um horário de propaganda na TV. Foi aí que o impensável se pôs em campo. O horário era desfavorável (os filmetes das oposições iam ao ar bem tarde da noite), o ambiente era arredio, mas, mesmo assim, a maré começou a virar.
Por quê?
Porque os comunistas, os socialistas, os perseguidos, os liberais de oposição, o multicolorido balaio de gatos das oposições, foram buscar um publicitário de sucesso para dirigir sua campanha. Esse homem de mercado, por sua vez, recrutou outros bruxos do consumo e da linguagem comercial da TV. Nesse ponto,No fotografa com absoluta nitidez o momento histórico (cuja cronologia varia de país para país) em que o publicitário desbanca o ideólogo no comando da luta política. Em lugar das cenas de espancamentos e de repressão explícita, em vez do desfile das mães chorosas dos milhares de desaparecidos, os publicitários do No contrariaram os velhos ideólogos e deram preferência a musiquinhas, piqueniques, trocadilhos, anedotas, o que detonou a ira dos esquerdistas mais conservadores. Alguns deles se retiraram ruidosamente do comitê de campanha, que acusaram de ter-se vendido aos publicitários que degradavam as mais nobres causas humanitárias a apelos vulgares de comercial de sabonete.
Mercadorias desejáveis
Ou de micro-ondas. Não importa. No final, o “No” sagrou-se vencedor, embora num placar apertado: considerados os votos válidos, o “No” conquistou 56% do eleitorado, enquanto o “Si” obteve a adesão de 44% (e nisso está o dado mais intrigante: para 44% dos chilenos, o país sob ditadura ia muito bem, obrigado).
A vitória dos publicitários, contudo, não revogou o fundamento daqueles que se opuseram à transformação da campanha do “No” numa campanha publicitária como qualquer outra. Esse debate permanece e, por qualquer caminho que se queira abordá-lo, ele nos conduz ao centro da viabilidade (ou não) do projeto democrático nos nossos dias.
Será sólida e sustentável uma democracia em que os argumentos que não cabem em 15 segundos de televisão acabam descartados da agenda política? Que lugar resta para a razão numa comunicação política regida cada vez mais pela lógica do desejo, ou, pior ainda, pelo desejo de consumo?
Alain Touraine viu esse impasse há cerca de 20 anos:
“As sociedades complexas e de mudanças rápidas pouco a pouco deixam de ser sociedades de intercâmbio, da comunicação e da argumentação, para serem cada vez mais sociedades da expressão. (...). Cada vez menos tratamos com comunicadores e cada vez mais com atores.”
Eis aí uma equação ainda insolúvel. A publicidade infantiliza o seu público, tutelando-o como a um semi-inimputável; não tem parte com a busca radical da verdade, mas com a sedução em prol da venda de produtos, serviços ou ideias. Dirão que a política sempre foi isso, um comércio de ideias, mas, ainda assim, é o caso de perguntar: será essa a emancipação com a qual sonharam os liberais revolucionários do século 18?
Ótimo que o “No” tenha vencido no Chile em 1988, mas será que a transformação das causas políticas em mercadorias desejáveis é a nossa mais alta expressão de liberdade?
***
[Eugênio Bucci é jornalista, professor da ECA-USP e da ESPM]
Fonte: http://www.observatoriodaimprensa.com.br Reproduzido do Estado de S.Paulo, 10/1/2013. 

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O Ser Humano e o Livre Arbítrio


O Ser Humano e o Livre Arbítrio

“Onde está o Espírito do Senhor, aí há Liberdade.” Paulo-II Co,3:17

Chegamos a mais um final de ano e com ele começam as resoluções que todos se pré dispõe para o próximo ano. Alguns resolvem iniciar um curso de línguas, fazer uma pós-graduação, arrumar um emprego melhor, sair do aluguel, emagrecer, arranjar um namorado, engravidar, casar, enfim, para cada um essa lista de desejos tem como finalidade uma melhora em sua vida atual. A realização desses desejos passa pelo principal dom dado por Deus a seus filhos: a liberdade de escolha ou o que chamamos de livre arbítrio.
Utilizar este dom é que é o Xis da questão. Newton dizia que “a toda ação existe uma reação” e para cada escolha que fazemos diariamente em nossas vidas uma consequência será inevitavelmente equivalente. O homem não é fatalmente conduzido ao mal; os atos que pratica não “estavam escritos”; os crimes que comete não são o resultado de um decreto do destino. Ele pode sim, como prova e expiação, escolher uma existência em que se sentirá arrastado para o crime, seja pelo meio em que estiver situado, seja pelas circunstâncias supervenientes. Mas será sempre livre de agir como quiser. E a mesma coisa acontece em todos os campos de nossa vida.
Um dos pontos mais marcantes da mensagem cristã que o Espiritismo revive é a aplicação da Lei de Liberdade. O conhecimento desta lei nos dá uma maior compreensão da grandiosidade de Deus e de sua Justiça. Uma realidade que o estudo sobre o Livre Arbítrio nos mostra é que ele nunca vem sozinho. Apesar de nos permitir agir como melhor quisermos sempre se fará acompanhar a responsabilidade, que é a resposta das Leis divinas e naturais à nossa ação, de tal modo que ela atenda aos nossos interesses de progresso e melhoria espirituais, construindo assim a paz junto à nossa consciência. Também devemos lembrar que a liberdade cresce no homem à medida que cresce o seu conhecimento dessas leis, como cresce também, na mesma proporção, a sua responsabilidade.
Conforme o ensino da Doutrina no Livro dos Espíritos questão 120: “Todos os espíritos foram criados simples e ignorantes, dotados de Livre Arbítrio, para vivenciarem o bem ou o mal”. A liberdade de escolha é a expressão da vontade do Espírito no discernimento de seus pensamentos e ações, ou seja, nenhum ser é levado à prática do mal por fatalidade, ou por determinismo da lei natural. Os Espíritos Reveladores nos ensinam que o que chamamos de fatalidade, corresponde à escolha pelo espírito de determinadas provas que deve sofrer no plano físico como forma de resgate ou aperfeiçoamento. Assim, o livre-arbítrio existe, no estado de Espírito, com a escolha da existência e das provas; e, no estado corpóreo, com a faculdade de ceder ou resistir aos arrastamentos a que voluntariamente estamos submetidos.
Cabe à educação recebida por cada um de nós, o combate às más tendências, e ela o fará de maneira eficiente quando se basear no estudo aprofundado da natureza moral do homem. Pelo conhecimento das leis que regem a natureza moral, poderemos a modificá-la, como se modificam, por exemplo, a inteligência pela instrução e as condições físicas pela higiene. As faltas cometidas têm, portanto, sua origem  nas imperfeições do nosso próprio Espírito, que ainda não atingiu a superioridade moral a que se destina, mas nem por isso lhe é dado menor poder de escolha. Segundo a doutrina espírita, não existem arrastamentos irresistíveis: o homem pode sempre fechar os ouvidos à voz oculta que o solicita para o mal no seu  íntimo, como os pode fechar à voz material de alguém que lhe fale; ele o pode pela sua vontade, pedindo a Deus a força necessária e reclamando para esse fim a assistência dos bons Espíritos.
Portanto, apesar do que viemos estudando nas últimas semanas acerca das influências exercidas pelos espíritos desencarnados em nossas vidas, devemos lembrar também que a doutrina espírita admite para o homem o uso do livre-arbítrio em toda a sua plenitude.  Se, ao lhe dizer que, se pratica o mal, cede a uma sugestão má que lhe vem de fora, deixa-lhe toda a responsabilidade, pois lhe reconhece o poder de resistir, coisa evidentemente mais fácil do que se tivesse de lutar contra a sua própria natureza. Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém.” Paulo (I Cor., 6:12). É isso que Jesus ensina na sublime Oração do Pai Nosso, quando nos manda dizer: “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”. Ao semear o que o nosso arbítrio escolheu, precisamos estar conscientes de que determinamos, simultaneamente, qual será a colheita. Logo, o determinismo compulsório de hoje é consequência da livre escolha de ontem, da mesma forma que as nossas opções atuais estarão desenhando, o nosso destino amanhã. Por conseguinte então, tudo nos é permitido, mas, antes da ação equivocada, façamos um segundo de pausa para pensar nos prós e contras, pesando bem, na balança do discernimento, a carga que pesará em nossos ombros em toneladas de angústia e remorsos por séculos infindáveis e tenebrosos.
Por falta de entendimento do livre arbítrio e de suas consequências, a maior parte das grandes religiões do passado e do presente, incidem em erros graves referentes à responsabilidade individual de cada criatura humana Somente com o Espiritismo, foi possível o entendimento racional da Justiça Divina, que leva em consideração o pensamento de cada ser, sua liberdade de agir, as circunstancias em que se encontram os embaraços que se opõem à liberdade e a responsabilidade final do Espírito. Se o indivíduo procura cercear conscientemente suas faculdades de discernimento, através de uso de drogas ou álcool, sua responsabilidade duplica, já que procurou anestesiar de propósito o uso de sua razão. Enfim quanto maior for sua capacidade de discernimento entre o que é correto ou não fazer, quanto mais desenvolvida a inteligência, maior será também a responsabilidade individual pelos seus atos. Da mesma forma uma criança que em sua inocência não é responsável pelo mal que pratica já que não tem a devida noção de sua ação.
Construímos, pois nosso futuro é todos os dias. Através de pensamentos e ações, o espírito e seu grupo cultural escolhem e determinam seus caminhos. Tendo essa certeza em nossas vidas devemos portando sempre lembrar o ensinamento “Orai e Vigiai”. Orar pedindo ao mestre Jesus a força necessária para a prática do Bem e dos bons pensamentos, segurança nas decisões tomadas e Vigiar nossas ações e reações a tudo que acontece ao nosso redor.  A evolução é o fundamento da vida e ocorre pela aquisição de conhecimentos em sentido amplo: técnico, afetivo, emocional, moral, filosófico, científico, religioso. O espírito adquirirá os novos conhecimentos através das experiências, vivências e convivências acumuladas ao longo de sucessivas situações pelas quais passa, tanto no polissistema espiritual como no material.

Ao somar conhecimentos novos, o ser modifica a visão que tem de si mesmo, dos outros, do mundo e de Deus, ou seja, amplia a sua consciência, evolui. O conhecimento e o comportamento resultantes das situações enfrentadas delimitam um caminho próprio para cada ser inteligente. De acordo com as suas escolhas, ele tem experiências diferentes e, em consequência, conhecimentos diferentes, que desenham uma sequência própria que lhe confere individualidade. Na construção do perfil que caracteriza como único cada espírito (inteligência, afeto, sentimento, valor, consciência) a liberdade de escolha, o exercício do livre-arbítrio, é o que permite ao ser inteligente alcançar os objetivos da vida.
Entretanto, como as experiências vividas são limitadas, o que o espírito sabe também é limitado. As dificuldades apresentadas na superação de algumas situações indicam as limitações do espírito. A solução, o conhecimento capaz de resolver a dificuldade, no entanto, não se encontra pronta; deve ser construída, adaptada às características únicas da situação e das pessoas envolvidas. A construção da resposta se faz da própria experiência do espírito ou da experiência acumulada pelo outro, encarnado ou desencarnado, que será adaptada ao edifício de conhecimentos do espírito, de acordo com a sua capacidade de raciocínio, seus sentimentos, seus valores e seu entendimento. É a liberdade de escolha que determina quais segmentos de conhecimento, tanto em qualidade como em quantidade, serão assimilados e como serão acomodados e equilibrados em relação aos conhecimentos que já constituem o ser, de forma coerente, para sustentar comportamentos.
Quanto mais adiantados estamos no entendimento da Doutrina Espírita, tanto em conhecimento como em moralidade maior a responsabilidade no uso de nossa liberdade de escolha, nosso Livre Arbítrio. Portanto os homens mais esclarecidos nas sociedades modernas, também são mais responsáveis que os ignorantes na prática de suas ações. Segundo Juvanir Borges “As dificuldades para a aceitação e o cumprimento desses deveres variam de conformidade com a consciência, a vontade de cada Espírito e a capacidade que cada um apresenta dentro das diversas categorias em que podem ser classificados: maus, ignorantes, convertidos ao Bem, arrependidos, redimidos, bons, superiores.”
O escritor ainda ressalta que somente com a “conquista da liberdade, dentro dos limites da responsabilidade dela resultante foi possível o reconhecimento dos direitos das minorias e a expansão de ideias novas contrárias a outras aceitas pela maioria, a retificação de erros seculares e  reorganização de leis humanas injustas.” A doutrina nos traz esclarecimentos decisivos sobre o verdadeiro sentido desse dom que Deus nos presenteou, patrimônio da humanidade deixado pelo consolador. Pensemos, pois melhor antes de tomar decisões de cabeça cheia ou de depositar expectativas demais nas coisas. O ser humano sempre achará mais fácil entrar pela porta maior que buscar a estreita onde está os verdadeiros ensinamentos de Jesus então se queres um desejo para 2013, peça força e ajuda para tomar decisões mais acertadas utilizando assim de forma coerente e responsável seu Livre Arbítrio.      

Fonte:Texto extraído de trechos do livro dos Espíritos, livro As Leis Morais, artigos do Jornal O Espírita Mineiro e artigo de Juvanir Borges de Souza na Revista Reformador e observações minhas a respeito do assunto.   
  Márcia Canêdo

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Portal Comunique-se: Capas falsas na web tentam confundir o leitor, esclarece Veja


Comuns em blogs e nas redes sociais, montagens feitas a partir do layout da revista Veja incomodaram o veículo, que resolveu falar sobre o assunto. Em matéria desta quinta-feira, 17, a versão online  da publicação da Editora Abril esclarece a questão e aconselha o leitor a consultar endereços oficiais no caso de dúvidas.
“Quem divulga imagens que simulam a revista quer brincar, elogiar, criticar – ou, eventualmente, confundir. No último caso, a escolha é infeliz. Para dirimir dúvidas, o leitor deve recorrer a endereços oficiais de VEJA na rede”, diz a abertura da matéria.

Ao longo do texto, Veja desmente algumas das paródias mais conhecidas: a entrevista com Darth Vader, personagem da saga 'Guerra nas Estrelas'; a montagem que anuncia benefícios da mistura de leite com manga e a capa em que o ex-presidente Lula leva um lenço ao rosto com a chamada "Interpol descobre – Desvio de mais de US 500 bilhões em paraíso fiscal em nome de 18 integrantes do PT". No caso, o site da revista apontou o erro na representação da moeda americana ("US" em lugar de "US$"), mas destacou semelhanças como o logotipo da Abril e o destaque para outros assuntos.
De acordo com o veículo, outra criação chamou atenção dos leitores de maneira mais séria. Dias depois de publicar detalhes do mensalão confidenciados por Marcos Valério, operador do esquema, uma edição falsa foi impressa e distribuída a jornalistas e blogueiros de São Paulo com uma capa semelhante, mas tendo Lula como personagem central. O texto dizia: "Ih, Lula – O Ki-suco ferveu”, entregando a farsa.
No fim da matéria, Veja lembrou algumas de suas capas que, segundo o próprio veículo, tornaram-se importantes registros históricos. É o caso da edição que tratou da promulgação do AI-5, em dezembro de 1968, - ilustrada pela foto do então presidente da República, o general Costa e Silva - e do exemplar que resumiu o afastamento de Fernando Collor de Mello da presidência, em outubro de 1992.


Fonte: portal.comunique-se.com.br em 17/01/2013

Márcia Canêdo 

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domingo, 13 de janeiro de 2013

Todo mundo feliz - Zeca Camargo


“As melhores críticas que o dinheiro pode comprar”. Este é título de uma das matérias mais interessantes que li recentemente. Foi publicada domingo retrasado, no suplemento de negócios do jornal “The New York Times” e assinada por David Sreitfeld – e eu já imagino que você deve estar se perguntando o que eu estava fazendo fuçando o suplemento de economia de um jornal? Bem, ocorre que o caderno de economia do “NYT” é um dos mais divertidos da edição de domingo, com matérias inesperadas e inteligentes, capazes de atrair até mesmo quem não tem intimidade com o assunto – como eu (e com uma outra abordagem, que não o “economiquês” que faz os nossos cadernos de economia aqui uma aborrecida reciclagem dos anos 70…). Mas fora isso, o título da reportagem era irresistível! Como assim, “as melhores críticas que o dinheiro pode comprar”? Desde quando uma crítica pode ser comprada?
Bem, desde sempre, não é? História de corrupção nas artes não são exatamente novidade – remonta, arrisco, os tempos renascentistas quando a arte finalmente assumiu seu papel transformador na cultura ocidental. E certamente sobrevive, de forma discreta – com eventuais denúncias, de tempos em tempos (eu, por exemplo, tenho idade suficiente para me lembrar reportagens dos anos 70 sobre escândalos de “payola”, como é conhecida nos Estados Unidos, a prática de se pagar para que uma música toque em determinada rádio – e seja até mesmo elogiada pelos DJs e locutores). Como um repórter de cultura com mais de 20 anos “de janela” (ok, 25!), não posso esconder que, como leitor, já encontrei vários textos de favorecimento “suspeito” – que, felizmente, não são a maioria, nem a tônica da imprensa séria. Mas o que o artigo do “NYT” apresentava era um contexto totalmente diferente: um negócio, “oficial”, que se especializava em escrever críticas favoráveis de determinados livros em troca de um “modesto” pagamento!
Há cerca de dois anos, um certo americano chamado Todd Rutherford teve uma ideia: por que não escrever críticas positivas de livros auto publicados (a nova “ameaça” ao mercado editorial, cujo exemplo mais popular é o fenômeno “Cinquenta tons de cinza”, da inglesa E.L. James – publicado aqui no Brasil pela Intrínseca)? O momento parecia ideal: com os jornais perdendo cada vez mais leitores (para não falar dos jornais literários) – e até mesmo algum prestígio – as “críticas-relâmpago” que apareciam na internet (em sites como a da Amazon) estavam se estabelecendo como uma das peças mais importante na árdua tarefa de convencer um leitor a comprar um livro de um autor desconhecido. Como conta Streitfeld:
“Críticas de pessoas comuns têm se tornado um mecanismo essencial para vender qualquer coisa online: são usados para resorts, dermatologistas, restaurantes da vizinhança, butiques de alta moda, igrejas, astrólogos e curandeiros (…). Em vários casos, essas críticas estão suplantando os departamentos de marketing, as assessorias de imprensa, publicidade, boca a boca, e avaliações de profissionais”.
Alarmante? Então preste atenção nesse depoimento, também da mesma reportagem. Segundo Bing Liu, um pesquisador de informação da Universidade de Illinois, em Chicago, “as engrenagens do comércio online funcionam com críticas positivas”. Uma pesquisa sua mostrou que, em 2008, 60% dos produtos avaliados na Amazon ganharam 5 estrelas – e mais 20% tinham pelo menos 4 estrelas. Ou seja: estamos vivendo num mundo maravilhoso, onde tudo que a gente compra é muito legal – mais legal do que quando a gente vai pra Baleia (desculpe, não resisti!).
A realidade, porém, não é bem assim. A maior parte do que está disponível na Amazon – na verdade, a maior parte dos produtos culturais (e vou ficar só neles, pois são “minha praia”) que nos são empurrados todos os dias – é medíocre. Livros mal escritos, desinteressantes e aborrecidos. Discos sem nenhum brilho, com músicas sem nenhuma originalidade, frequentemente com ideias nada originais. Peças de teatro amadoras, filmes ordinários, shows tipo “caça-níquel”, programas de TV baratos e inconsequentes. Um trabalho de qualidade – esse sim é a exceção! Mas quem é que, hoje em dia, em tempos de internet, quer ler, ver ou ouvir alguma coisa ruim sobre um artista que os fãs gostam tanto?
Para contornar “o velho” sistema – aquele onde as coisas eram avaliadas por pessoas que tinham um certo estofo para a tarefa – basta você lançar um twitter quando seu artista favorito solta uma nova música ou está em um novo filme (ou uma novela) e pronto! Uma grande massa se mobiliza para elogiar alguma coisa, não exatamente porque ela é boa, mas porque essa massa gosta dela. Critérios? Quem precisa deles?
Voltando à história de Todd Rutherford, há dois anos ele criou o “GettingBookReviews.com” (que, se fosse em português, chamaria-se “ConseguindoCríticasdeLivros.com”). Os elogios que ele espalhava na internet para livros que nem chegava a ler por inteiro eram tabelados (a coisa era séria!): uma única resenha custava 99 dólares. Mas, como observa o repórter, alguns autores queriam um “coro de aprovação”. E assim surgiram “pacotes promocionais”: por 499 dólares, ele soltava 20 críticas positivas; e por 999 dólares, 50. Nenhum autor iria se sujeitar a pagar isso, certo? Errado! Em um bom mês, Todd faturava até 28 mil dólares! E todo mundo ficava feliz…
Os autores, que de uma hora para outra viam seus livros cobertos de elogios. Os sites de compras que viam seus produtos tendo uma saída inesperada – azeitada, claro, pelas “ótimas” críticas. Todd, sem dúvida, não reclamava do dinheiro no bolso. E o leitor – esse pobre ponto final de qualquer obra de arte – esse nem parava para pensar: lia o livro e achava ótimo, afinal, quem era ela para discordar do tal “coro de aprovação”? (Na verdade, ele era “o leitor”, a criatura soberana que deveria ter articulação suficiente para ponderar sobre o que gosta ou o que não gosta, mas em tempos de “aprovação total” – ainda que sem critério algum – ele acaba se sentindo um trouxa se não… concordar com todo mundo! Mas eu divago, claro).
O único problema é que essa “felicidade geral” era uma mentira. Como a fábrica de superlativos de Todd deixava claro, esse “aplauso absoluto” era uma fabricação. Servia a quem? Ao comércio, sem dúvida – e, por tabela, ao ego do autor. Mas certamente não acrescentava nada ao discurso cultural. E tampouco nos ajudava a eleger bons autores – nem a peneirar o que estava sendo escrito de bom. A “democratização das opiniões”, que é certamente um dos efeitos colaterais mais duvidosos da internet, de uma hora para outra empobreceu o exercício da crítica – e deixou todo mundo desorientado.

Pegue Bruce Springsteen, por exemplo – cujo último álbum, “Wrecking ball” fez com que ele ressurgisse na mídia recentemente. Ele tem uma longa carreira, com bem mais altos do que baixos. Mas qualquer crítico de respeito reconhece que nem todos os seus trabalhos são excelentes – e muitos não têm problemas em assinalar os discos mais fracos. Eu mesmo já me decepcionei com discos que bandas que venero (ou venerava quando existiam), como R.E.M., Oasis ou – para dar um tom mais “alternativo” – Manic Street Preachers. A gente tem que ter a coragem de admitir que nossos ídolos (parafraseando Elis) nem sempre são os mesmos…
Nenhum artista oferece um produto cultural na expectativa de que ele será atacado pela crítica – ninguém é tão masoquista assim… Mas ter seu trabalho avaliado é o ponto final de uma coisa chamada “processo criativo” – e não é um punhado de resenhas ruins que vai desanimar esse autor ou essa autora de continuar a produzir coisas boas. Na melhor das hipóteses, a opinião desse crítico – isto é, de alguém que tem notoriamente conhecimento sobre o assunto – pode até orientar o artista nos seus próximos caminhos.
Escrevo isso, sei bem, do alto de uma montanha de vulnerabilidade que acabei de escalar. Como já mencionei antes em algum canto deste blog, acabei de “estrear” na ficção: fui convidado a participar de uma coletânea de contos baseados em músicas dos Beatles – e o resultado (“O livro branco”, editora Record) acaba de sair. É uma amostra pequena e modesta, mas, não obstante, estou dando a cara para bater – ao mesmo tempo aceitando o compromisso de acatar uma boa crítica (o que não significa necessariamente uma crítica positiva – pode ser negativa também, desde que não seja rasa na linha “você é um imbecil que trabalha em TV e acha que sabe escrever”, algo bastante frequente, como você pode conferir em comentários aqui publicados). Esse diálogo virtual entre leitor e autor (seja de livro, música, filme, ou qualquer outra forma de expressão) deve ser saudável e honesto. Mas estamos perdendo este hábito…
Vou dar um outro exemplo recente. A “Granta”, uma das mais respeitadas revistas literárias do mundo, lançou, há alguns meses, um volume com os melhores escritores brasileiros com menos de 40 anos. Imediatamente depois que os nomes foram anunciados, começou a discussão sobre a “validade” dessa seleção – um bafafá inócuo muito bem descrito por André Barcinski numpost de algumas semanas atrás. Vi algumas dessas “trocas de elogios” na própria internet – e até me diverti um pouco com elas. Mas não li sequer uma crítica que me orientasse de maneira sensata: qual desses “jovens autores” vale realmente a pena? Não achei nenhum texto cuja opinião eu pudesse confrontar com a minha – não para ver se eu “acertei ou errei” no meu gosto, mas para me dar um parâmetro para contrabalancear as minhas avaliações.
Eu mesmo queria escrever sobre a coletânea – assinalar o que eu tinha realmente gostado (Daniel Galera, claro; Chico Mattoso com o provocante “Mãe”; Tatiana Salem Levy; Carola Saavedra; Ricardo Lísias; e Julián Fuks – para mim, o melhor de todos, baseado, claro, nesse conjunto). Queria também explicar o que me decepcionou (Cristhiano Aguiar; Luisa Geisler; Antônio Xerxenesky). E tentar entender o que a “Granta” viu de especial nos outros autores que certamente tem qualidade, mas não o que eu chamaria de “centelha”. Mas alguém está interessado em ler/ouvir isso? (Mais fácil twittar o que eu “gostei e não gostei”, não é mesmo?). Melhor a gente sair elogiando tudo e, como já coloquei aqui, deixar todo mundo feliz…
Ah! Sabe o que aconteceu com o site de Todd Rutherford? Uma autora/cliente não achou que as críticas que ele escreveu (de encomenda, só lembrando) sobre seu livro eram suficientemente elogiosas e postou comentários ultra negativos sobre o GettingBookReviews.com – ele foi perdendo clientes e seu negócio fechou.
E eu que achava que não existia justiça neste mundo…
O refrão nosso de cada dia
“Cotton flower”, Moriarty – nos dias em que eu estava bem mal da pneumonia, quando a única coisa que conseguia me divertir era a música (achei que ia ler muito nessa minha recuperação, mas não deu certo…), essa banda foi uma das que mais me fez companhia, descrevendo musicalmente o que eu estava sentindo. E dentre tantas canções lindas, essa é a minha favorita – com um refrão que já começa abrindo a música. Você não precisa estar doente para gostar…


Fonte:Blog do Zeca Camargo

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