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domingo, 11 de abril de 2010

A hora de dizer não

Bom, antes tarde do que nunca é o que dizem por aí ... atrasei hoje com nossa postagem de crônica semanal por estar assistindo a um filme chamado "Sempre ao Seu Lado",  que aliás recomendo a todos que amam animais principalmente cães como eu. Só não garanto que não deixarão de se emocionar. A crônica que o Jornalismo Antenado dessa semana é do escritor, jornalista e teledramaturgo Walcyr Carrasco, que trabalhou nos principais veículos da imprensa. A estréia como autor se deu no teatro, com peças como Batom (que consagrou a atriz Ana Paula Arósio) e Êxtase. Também é autor de livros infantis, como Vida de droga e O Menino Narigudo, usados como livros paradidáticos nas escolas brasileiras. No dia 4 de setembro de 2008 tomou posse na Academia Paulista de Letras  substituindo a vaga deixada pelo poeta Cyro Pimentel. Walcyr também esceveu um livro chamado "Anjo de 4 patas" um livro baseado em fatos reais que conta sua vida com um cachorro trapalhão chamado "Uno", que dá muita dor de cabeça ao nosso escritor.

A hora de dizer não - Walcyr Carrasco

As regras de etiqueta mudam mais rapidamente que o tamanho das saias. Minha sólida educação de classe média tornou-se fora de moda. Como enfrentar um fumante? Quando eu era criança, a visita podia ser uma chaminé. Minha mãe abria as janelas disfarçadamente. Seria incapaz de falar um ah! Outro dia fui a uma reuniãozinha. Um rapaz tirou o maço. Quando ia acender o cigarro, a dona da casa sorriu:

– Você pode ir fumar lá fora, por favor?

Ele foi fumar no frio. Voltou tranqüilamente, como se a proibição fosse normal. Não consigo agir assim. Um dos meus amigos, nos restaurantes, mal termina de comer, acende o seu. Fuma diretamente sobre meu prato. Acabo comendo bife com tempero de nicotina! Penso: se ele é capaz de soltar fumaça no meu cardápio, ficará ofendidíssimo com um toque.

Em outra área já obtive meus avanços. Aprendi a expulsar as visitas tarde da noite. Tenho amigos que adoro. Capazes, entretanto, de passar a madrugada conversando. No passado, eu bocejava. Parava de servir café ou bebida. Ninguém decifrava meus sinais. Pelo contrário. Em certo momento, alguém dizia:

– Posso pegar uma Coca lá na geladeira?

– Claro – eu respondia aterrorizado.

– Também quero – pedia outro.

Eu ficava fiscalizando os goles. "Quando terminarem, vão embora", imaginava. Coisa nenhuma. Dali a pouco:

– Posso fazer um café? Tem alguma coisa para comer?

A noite se estendia. Agora, digo simplesmente:

– Pessoal, estou morrendo de sono. O papo está ótimo, mas a gente continua outro dia!

Enquanto ainda estão surpresos com minha cara-de-pau, atiro os casacos em cima de cada um. Abro a porta com um sorriso, avisando:

– Vou aproveitar para soltar os cachorros.

Muito mais difícil é me livrar de alguns telefonemas. Certa amiga tem esse hábito. Fala, fala. Tento desligar:

– A conversa está muito legal, mas eu tenho de...

– Ah, sim! Deixa eu só dizer uma outra coisa...

Lá vai mais meia hora. Já aconteceu de ficar com a mão adormecida de tanto segurar o telefone! Agora tenho um truque infalível. Digo rapidamente:

– Espere um pouco, a outra linha está tocando.

Demoro um instante e volto.

– É um telefonema urgente do meu trabalho. Ligo para você depois.

Bem, digamos que "depois" é um termo abrangente. Dali a um minuto ou vários meses!

Boas maneiras deveriam ser o resultado do comportamento de duas pessoas. Nem sempre é assim. Uma tenta agir da melhor maneira. A outra se aproveita da gentileza alheia. O bicho pega na questão das confidências. Faz pouco tempo, uma amiga ligou.

– Minha vida está um caos!

Por aí foi. Não perguntou de mim. Se tinha tempo ou disposição para ouvir as lamúrias. Lamentavelmente, eu estava com uma vontade terrível de fazer xixi. Fiquei me contorcendo enquanto ela me dava detalhes da briga com o namorado, a tensão com o filho que não aceita o novo amor, os problemas financeiros.

Aconselhei, já desesperado:

– Você tem de superar!

Mais lamentações. Eu tentava uma brecha, pedir um minuto. Impossível. De repente, rugi:

– Olha, quer saber? Você confunde amigo com lata de lixo. Por que acha que tem o direito de me ligar todas as semanas para me atirar seus problemas?

Silêncio sepulcral. Eu podia ouvir sua respiração ansiosa. Depois, num fio de voz:

– Desculpe.
– Quando tiver uma coisa boa para me contar, me ligue – concluí.

Desliguei. Aliviado. Fosse o xixi ou uma ficha que caiu, descobrira uma nova regra do bem viver. Amigo pode tudo. Desde que também saiba compartilhar a felicidade.

 
 

Fonte: Walcyr Carrasco - Jornalista, escritor e teledramaturgo
Imagens: Google

Será que devemos sempre dizer SIM a tudo e todos na vida?! Segundo a crônica é claro que NÃO e eu endosso esse pensamento.  Ao longo da vida nos vemos em situações parecidas  com as relatadas no texto, onde ficamos "sem graça" de negar algo ou até mesmo cortar pela metade uma conversa por uma questão de convenção e medo de ser indelicado. Agora onde fica o limiar da falta de educação e a simples forma de não se sentir obrigada a vivenciar situações que nos são desagradáveis?! Bem isso fica um pouco por conta do bom senso de cada um . A verdade é que mesmo em nome da amizade não devemos "sofrer" com a falta de senso alheio.

Cada vez nós estamos tornando o mundo mais individualista, complexo e separatista e por esse motivo mesmo as pessoas as vezes se esquecem que para tudo  na vida existe limite.As pessoas não trocam conhecimentos, afetos, informação,  valores pessoais estão sendo deixados para tráz e tornando assim o ser humano sem os verdadeiros limites de maneira que a humanidade se torne realmente propera. É mais fácil apenas reclamar, importunar ao invés de tentar buscar uma solução. Crianças estão sendo criadas  totalmente sem parâmetros sejam eles: comportamentais, sociais, educacionais que serão produtos do nosso futuro empregado, amigo, marido, companheiro de trabalho. É muito sério esta situação, porque na crônica retratou-se fatos básicos, corriqueiros, mas que ao longo dos anos e da convivência se tornam massantes e podem até destruir longas amizades. Pensemos nisso!

Márcia Canêdo 

By JORNALISMO ANTENADO with 9 comments

9 comentários:

Marcia
Mais um post muito interessante e que nos interessa.
O ideal seria sermos firmes em dizer não ou sim ,segundo a situação.Ás vezes custa dizer um não...e é aí que entra a nossa força interior...principalmente se o assunto é de crianças...

beijnhos
joana

bom as vezes temos que dizer nao , pois temos quer ser firmes como alguma coisa tipo , com nossas crinças , que quer um brinquendo ou um jogo.

bjos

Amiga, tudo tem sua hora certa, muitas vezes o não é um sim para melhora, devemos apenas nos atentarmos em qual circunstancia o não será dito e o sim também.
Abraços forte

Márcia,

Acho que amizade é produto de luxo para o nosso tempo atual,tão confuso estressado e estressante.
A amizade tem que ser democrática, capaz ATÉ de ouvir um "sim" um "não" mas, sobretudo é um exercício da tolerância, da aceitação do outro exatamente como ele é.
Obviamente não é um exercício fácil e por isso tenho poucas mas todas bem verdadeiras.
Abs.
Eninha

Márcia,

No meu tempo, a palavra que designava a habilidade de alguém de perceber quando está sendo inconveniente era "desconfiometria". Quem "desconfia", não abusa!!

Acho que as proibições e restrições, assim como as chamadas de atenção são reflexos justamente da necessidade de as pessoas agirem harmoniosamente. Acho que o excesso de tudo é que é inconveniente.

Tanto o cara que despeja caminhões de reclamçãoes da vida, assim como quem vive se vangloriando vitórias abusadamente na cara dos outros, são chatos.

O excesso de polidez é deprimente e nos torna passivos. O excesso de rigidez e rabugice nos afasta de tudo quanto é agradável.

Ao invés de dizer sim ou não, as pessoas deveriam ser mais imperativas. Dizerem o que querem, como fez o Walcyr no caso dos amigos madrugadores e desocupados.

Bjs!!

Infelizmente muitas as vezes não sabemos dizer não, mas temos que aprender a fazer isso, para o nosso bem e pelo bem das outras pessoas.

Bjos

Olá querida Márcia,

Parabéns por mais uma fantástica crônica!

Vou falar a verdade: ri muito com o texto, mas também me identifiquei um pouco. No passado agia da mesma forma: nunca conseguia dizer um "não". À medida que crescemos, começamos a refletir se realmente essa atitude nos deixa sempre confortáveis. Percebi que não.

É claro que, dizer "não" é diferente de deixar de ser gentil - posso dizer um não sem magoar ninguém. É o aprendizado...

Beijos.

Olá Márcia!

Parabéns por mais um excelente artigo, minha querida! :)

Eu penso que temos que ser firmes nas nossas convicções, sem que para isso haja necessidade de ser indelicado. Eu confesso que tenho uma certa dificuldade em dizer "não". Mas, à medida que o tempo vai passando e os nossos valores ficam mais seguros, essa dificuldade tende a desaparecer.

Beijinhos
Luísa

loooool sempre é sim ao meu filho loooool JOGUEM RUNEEESCAPE...

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