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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A importância das autênticas mídias ambientais

Os jornalistas ambientais e interessados na questão ambiental reuniram-se, recentemente, no Rio de Janeiro, com o objetivo de analisar as tendências e os desafios enfrentados por quem cobre regularmente o meio ambiente, bem como para compartilhar saberes e experiências, e sobretudo rediscutir o papel da imprensa e de seus profissionais num planeta ameaçado.

O aquecimento global, a insegurança alimentar, a ameaça dos grandes projetos como Belo Monte (Belo Monte de porcaria!), a favelização das metrópoles, a pressão insuportável do agronegócio sobre os povos da floresta (aumentada com a aprovação do novo Código Florestal), o primado das monoculturas e a degradação da qualidade de vida são pautas candentes e estiveram na agenda do evento.

O momento exige reflexão mas também ações concretas para impedir que interesses de toda ordem (políticos, empresariais, pessoais etc) se sobreponham ao interesse público.

O Brasil, dono da maior biodiversidade do mundo, deve liderar esse processo de mobilização e, ao contrário do que postulam governos desenvolvimentistas, precisa contribuir para que o cenário atual, dramático e socialmente injusto, se modifique.

O jornalismo ambiental precisa estar fortalecido para enfrentar as ameaças que surgem avassaladoras no horizonte, como a escassez de água potável, a destruição acelerada das florestas e o uso de padrões insustentáveis de consumo. Mas o jornalismo ambiental também precisa repudiar as soluções cosméticas que têm como objetivo desviar o foco e que apenas prorrogam a agonia de um mundo que insiste em desafiar a lógica da sobrevivência. Deve impedir que se continue chamando “plantação de eucaliptos” de florestas porque essa expressão afronta o conceito de florestas que só tem importância quando permanecem em pé, quando, além da madeira para fabricação de papel e móveis, dão sombra, protegem o solo, oferecem frutos, ou seja representam a síntese verdadeira da biodiversidade. “Plantação de eucaliptos” é outra coisa e tem servido para impor mais uma monocultura, que ameaça sensivelmente a sustentabilidade.

Nesse contexto de formação, contextualização, mobilização, esclarecimento, as mídias ambientais são absolutamente indispensáveis. Em primeiro lugar, porque, resistentes aos assédios de governos e empresas, têm conseguido furar o cerco para pautar temas que são ignorados pela grande imprensa. Em segundo lugar, porque elas estão efetivamente comprometidas com a causa ambiental e não contemplam o meio ambiente como mais um assunto para aumentar audiência.  Por isso, mais do que informar elas formam consciências e convidam para a mobilização. Em terceiro lugar, porque as mídias ambientais desenvolveram um discurso, uma linguagem própria que, mais do que as mídias tradicionais, favorece o diálogo com os jovens, protagonistas principais do nosso futuro. Finalmente, as mídias ambientais têm a legitimidade que a sua independência editorial lhes confere.

As mídias ambientais, no entanto, apesar de sua relevância indiscutível, são ainda objeto de preconceito por parte de agências, anunciantes e governos. Há quem argumente que elas, situadas fora do circuito estritamente comercial do mundo da comunicação, encontram dificuldades para atrair e convencer aqueles que apenas entendem a lógica do “custo por mil” e que se acostumaram à métrica equivocada dos planejamentos de mídia. Embora com grande influência em determinados segmentos da população, as mídias ambientais privilegiam a qualidade do debate e da audiência e não têm lançado mão do sensacionalismo para arregimentar leitores, ouvintes, telespectadores e internautas.

As mídias ambientais têm, muitas vezes, se defrontado com o desafio de sua própria sustentabilidade, mas permanecem firmes, respaldadas em um compromisso que, inclusive pela sua ação, se dissemina por amplos setores da sociedade: a preservação dos recursos naturais, a redução da pobreza e das desigualdades, o estímulo à pluralidade e a luta pela biodiversidade.

As mídias ambientais são penalizadas pelo cerco ideológico organizado por setores conservadores da sociedade brasileira que pregam a despolitização do debate ambiental, temendo que ele possa ameaçar os seus lucros e privilégios. Elas são estigmatizadas por governos e empresas que não querem ver expostas suas ações nefastas contra o meio ambiente, ainda que mantenham um discurso hipócrita, como o que caracteriza o chamado “marketing verde”.

As mídias ambientais têm conseguido elevar e manter o tom do debate, impedindo que a questão ambiental caia no lugar-comum. Ela resiste em adotar o padrão habitual da imprensa que levanta e derruba pautas ao sabor da audiência. Ela pratica o verdadeiro conceito de meio ambiente, não o reduz a situações pontuais e aparentemente distantes, como a extinção das baleias ou o degelo na Antártica, embora as inclua, visto que fazemos, queiramos ou não, parte de planeta único. As mídias ambientais sabem efetivamente o que significa ecossistema e nos vêem, todos nós, como passageiros de uma mesma nave que trafega pelo espaço, vulnerável às intempéries, particularmente aquelas que temos irresponsavelmente provocado com o nosso consumo desenfreado e a ganância odiosa de empresas e governos.

As mídias ambientais precisam ser olhadas (lidas e ouvidas) com atenção porque elas têm apontado sistematicamente para a solução dos problemas que nos afligem. Elas sabem que o meio ambiente tem íntima relação com a economia, com a cultura e com a sociedade; elas praticam a solidariedade e, diferentemente de outras mídias, da maioria das empresas e de governos, vêem os habitantes do planeta como irmãos e não como “potenciais clientes”.

As mídias ambientais são essenciais e, portanto, merecem ser prestigiadas, reconhecidas, valorizadas. Sem esse olhar comprometido, o debate sobre o meio ambiente tende a se transformar em uma simples “commodity intelectual”, que se comercializa nas falas e políticas de governos e que freqüentam as mensagens publicitárias de empresas predadoras. Entre as facilmente identificáveis com esse perfil nefasto, é preciso incluir os representantes do sistema financeiro que se proclamam sustentáveis, ao mesmo tempo que massacram clientes com juros obscenos , infernizam seus funcionários para que atinjam metas irrealizáveis e promovem a demissão sucessiva dos seus “colaboradores”.

Um país efetivamente comprometido com o meio ambiente precisa de mídias ambientais robustas, independentes e sustentáveis. Elas certamente nos ajudarão a combater esta mentalidade transgênica, mineradora, celulósica, agrotóxica, que defende a plantação de soja, de cana e de outras commodities, agrícolas ou não, como a nossa vocação maior ou única. Esta mentalidade poluída que sequestra a nossa água, consome a nossa energia, emporcalha as nossas cidades, contamina os nossos campos, dizima os nossos indígenas e transforma milhões de brasileiros em escravos e bóias-frias.

Em tempo 1: É preciso estar atento para mídias ambientais de fachada que surgem aqui e acolá, sem raízes com a verdadeira cobertura ambiental, e que têm como objetivo legitimar posturas inaceitáveis e angariar lucros explorando a temática ambiental .

Em tempo 2: É preciso também que as mídias ambientais autênticas estejam sempre dispostas a resistir ao assédio de empresas que buscam utilizá-las para o seu processo sujo de “limpeza de imagem”. Em nome de uma pretensa sustentabilidade, empresas, governos e até partidos políticos e parlamentares investem recursos significativos para aparecerem “bem na fita”, ao mesmo tempo que persistem em sua escalada contra o meio ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos. Não é razoável abraçar predadores e nem lhes estender a mão, permitindo que continuem alimentando, sem escrúpulo, a sua ganância pelo lucro e pelo poder.

By JORNALISMO ANTENADO with No comments

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