Amnésia coletiva - Um problema sociocultural

Em seu livro "A mídia do poder", Arbex faz algumas afirmações que desde sempre escutamos das pessoas: "O Brasil é o país do futuro"; "O Brasil está condenado a ser grande, não verás país como este". Estas e outras projeções são feitas a cerca do crescimento do país, sem que existam fatos passados ou presentes que as ratifiquem. Ao contrário, o que vemos é uma grande dificuldade de definir o "ser brasileiro", devido a nossa história vivida desde nossa constituição como nação. A natureza sempre foi generosa com nosso país, ao contrário do que vemos atravéz da mídia sobre catástrofes como terremotos, incêndios, abalos císmicos, etc, tão recorrentes na América do Norte e Ásia .

Temos portanto um passado e um presente que divergem dessa fé de um futuro próspero, que infelizmente nunca chega, mas que se baseia num traço de nossa herança cultural que é a total falta de memória de nosso povo. O que presenciamos é uma memória seletiva, onde guardamos as coisas boas que nos aconteceram e negligenciamos os fatos negativos.

É quase um acordo tácito de se apagar o passado "pelo bem de todos e concenso nacional" , descrito por Hannah Arendt como um "império das sombras" . Em todo esse esquema existe um sentido político, pois essa falta de memória nos deixa desarmados frente ao autoritarismo e a demagogia. Para nossos governantes, é importante o povo manter-se entorpecido e acrítico, pois apostam nessa "amnésia"coletiva como forma de dominação.

Esse tipo de amnésia coletiva não é privilégio do Brasil, devido ao avanço dos meios de comunicação, em especial a televisão. Não só a televisão, mais também a internet encurtou as distâncias, tornando possível sabermos o que está acontecendo do outro lado do mundo, praticamente em tempo real. Essa imediaticidade da notícia é aparente e corresponde ao que o veículo acredita que seja importante estarmos a par. No caso específico da política , a imagem passou a ser o império das aparências arrebanhando milhares de votos e simpatizantes por uma mesma causa, definindo o resultado de eleições muito disputadas.

Todo o desenvolvimento da mídia eletrônica contribui para que milhares de pessoas que não tem condições de ler um bom jornal diariamente, para que tenham acesso às informações através da Tv. A quantidade de informações aumentou vertiginosamente, porém isso não tornou as pessoas mais críticas, pois poucos têm o discernimento de se lembrar que as imagens antes de irem ao ar são editadas e que as gravações seguem a orientação dos veículos em que são veiculadas. Como resultado disso, temos telespectadores apáticos e que aceitam o que lhes são mostrados como verdade absoluta.

Baudrillard descreve a construção da memória coletiva da seguinte maneira, para ele as massas são bombardeadas de mensagens e estímulos e acabam se tornando cegos diante do que lhes é mostrado. Se realmente isso for verdade, explicaria o motivo porque aqui no Brasil a memória de seu povo se torna a cada dia mais falha e manipulável. Procurar culpados a essa altura, não é a saída, pois a partir do momento que tomarmos em nossas mãos o poder de escolher entre continuar reféns das mensagens noticiosas que nos são apresentadas diariamente e passar a refletir sobre a realidade que nos cerca, ai sim poderemos mudar o rumo desse processo de alienação em que se encontra o Brasil.

No dia em que as pessoas entenderem que podem e devem , questionar as notícias que assistem, e que ao contrário do que são levadas a imaginar, as imagens não correspondem totalmente com a realidade, muita coisa irá mudar em suas vidas e na herança cultural que deixaram para geraçãoes futuras. Quando falo isso é como jornalista que sou e consciente do poder de manipulação por parte de muitos veículos, não apenas televisivos, mais também jornais e revistas tidas com referência em nosso país.

Márcia Canêdo

By JORNALISMO ANTENADO with 4 comments