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domingo, 5 de abril de 2009

O terror trabalha ao lado ! Revista Imprensa » Edição 231 (Jan/2008)

"Paguei todos os meus pecados. Dia após dia, ouvia que era burra, incompetente, que as minhas matérias eram um lixo. Tudo em voz alta, para a redação inteira ouvir. Fui parar no hospital. Crise aguda de gastrite. Fora a enxaqueca permanente". O depoimento é de Paula*, hoje assessora de imprensa, que durante dois anos se submeteu a humilhações diárias capitaneadas por um editor de um jornal de grande circulação de São Paulo. Um exemplo, dentre muitos, de um tipo de violência comum nas redações: o assédio moral.
Reféns da vergonha, do medo de perder o emprego e de serem taxados como encrenqueiros, a maioria não denuncia os superiores. Paula, por exemplo, optou pela saída mais corriqueira, pediu demissão. "Concluí que não valia a pena denunciar. Ainda tenho muita carreira pela frente", justifica.
O receio pode ter razões práticas. Mas contribui para velar uma agressão que é tão antiga quanto uma Olivetti Lettera, marcada por uma conduta abusiva do superior que, repetidamente, usa gestos, palavras e atitudes para humilhar um funcionário ou muitos deles. Ou seja, não trata-se apenas de uma mera implicância de chefe com subordinado.
A área de comunicação é terreno fértil para o assédio. Só perde para saúde e educação. Não é difícil saber o porquê quando se conhece a rotina de um jornalista. Doutor em comunicação, o psicólogo José Roberto Heloani mergulhou nas histórias desses profissionais, para o trabalho "Mudanças no mundo do trabalho e impactos na qualidade de vida do jornalista", e descobriu situações semelhantes em diversas redações.

As desavenças no jornalismo são produto de uma lógica competitiva, motivada, muitas vezes, por um conflito de gerações. Ou seja, o mais jovem desqualifica o trabalho do mais velho, que não possui tanto domínio da tecnologia quanto ele. E quem tem mais idade, por sua vez, costuma classificar os chamados focas como irresponsáveis e ignorantes. "O isolamento é a mais comum das humilhações. Um elogio sutil, acompanhado de uma desqualificação profissional, também é uma atitude corriqueira. Cria-se um clima de desconfiança até que os próprios colegas começam a questionar o trabalho dessa vítima, isolando-a", explica o psicólogo.
Não há, por enquanto, uma avaliação empírica sobre quantos jornalistas sofrem assédio no Brasil. Mas no universo pesquisado por Heloani, 44 pessoas, 19% era alvo de agressões. As conseqüências são graves. Os homens costumam ter problemas cardíacos, gastrintestinais e de disfunção erétil. Já as mulheres sofrem com doenças hormonais, enxaquecas e queda de cabelo. Alcoolismo, uso de drogas e até tentativas de suicídio também ocorrem.


Conheça o perfil dos agressores:


Profeta: Sua missão é "enxugar" o mais rápido possível a "máquina", demitindo indiscriminadamente os trabalhadores/as. Refere-se às demissões como a "grande realização da sua vida". Humilha com cautela, reservadamente. As testemunhas, quando existem, são seus superiores, mostrando sua habilidade em "esmagar" elegantemente.
Pitt-bull : É o chefe agressivo, violento e perverso em palavras e atos. Demite friamente e humilha por prazer.
Troglodita: É o chefe brusco, grotesco. Implanta as normas sem pensar e todos devem obedecer sem reclamar. Sempre está com a razão. Seu tipo é: "eu mando e você obedece".
Tigrão:
Esconde sua incapacidade com atitudes grosseiras e necessita de público que assista seu ato para sentir-se respeitado e temido por todos.
Mala-babão: É aquele chefe que bajula o patrão e não larga os subordinados. Persegue e controla cada um com "mão de ferro". É uma espécie de capataz moderno.
Grande irmão: Aproxima-se dos trabalhadores e mostra-se sensível aos problemas particulares de cada um, independente se intra ou extra-muros. Na primeira "oportunidade", utiliza estes mesmos problemas contra o trabalhador, para rebaixá-lo, afastá-lo do grupo, demiti-lo ou exigir produtividade.
Garganta: É o chefe que não conhece bem o seu trabalho, mas vive contando vantagens e não admite que seu subordinado saiba mais do que ele. Submete-o a situações vexatórias, como por exemplo: colocá-lo para realizar tarefas acima do seu conhecimento ou inferior à sua função.
"Tasea" ("Ta se achando"): Confuso e inseguro. Esconde seu desconhecimento com ordens contraditórias: começa projetos novos, para no dia seguinte modificá-los. Exige relatórios diários que não serão utilizados. Não sabe o que fazer com as demandas dos seus superiores. Se algum projeto é elogiado pelos superiores, colhe os louros. Em caso contrário, responsabiliza a "incompetência" dos seus subordinados.
Fonte: assediomoral.org/conteúdo retirado de Barreto, M. Uma Jornada de Humilhações. 2000 PUC/SP.

Bom, essa é uma realidade dificil de engolir, mas que perturba a vida de muitos profissionais , o assédio moral é crime previsto por lei e deve ser denunciado ás autoridades. A busca por um emprego digno não está nada fácil, ainda mais em épocas de crises econômicas como a que o mundo está vivendo, porém não justifica um profissional admitir que seu patrão ou superior o humilhe ou pressione . Esse tipo de situação deve ser abolida !

Márcia Canêdo.

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