Nossa, achei que não conseguisse chegar a postar a tempo. Explico ... a cerca de meia hora o céu estava literalmente caindo em Juiz de Fora, minha terrinha natal. São as famosas águas de março fechando o verão tão belamente cantadas pela Elis Regina. Pois bem, a crônica de hoje não é de nenhum cronista conhecido, porém é sobre um tema que acredito todos já conversaram nas rodinhas de amigos e claro muitos vivem na pele esta situação. Estou falando da fatídica criatividade que alguns pais e mães insistem em ter ao pensar no nome do futuro bebê. Chega então de enrrolação e vamos e à crônica deste sábado.
Próprios e impróprios - Ivan Ângelo
Mas por que será que tantas pessoas recusam os nomes próprios tradicionais na hora de registrar os filhos? Estão nesse rol duas categorias de pessoas: as ingênuas e as bregas. Buscam – e acham! – nomes complicados, muitas vezes estranhos; inventam, misturam, importam, adaptam. Por que não um simples João, Paulo, Pedro, Tiago, Mariana, Luísa, Camila, Luciana? Talvez acreditem que um nome comum conduzira o nomeado a um destino comum.
Na busca do diferente, têm preferência sons da América do Norte. Wesley está na moda. Brian, Nathan, Michael, Washington correm junto. Muitas vezes os pais só pegam o som, não a grafia. Como é o caso do nome do jogador de futebol Uóshito. Ou de seus semelhantes, que encontrei numa matéria de jornal recente: Uini (seria Winny), Oliude (Hollywood), Estivenson (Stevenson), Viliam (William), Hantuane (difícil reconhecer aqui o francês Antoine). Outros inventam uma pronúncia que não existe, como o brega-chique Paôla. Porque Paola, em italiano, se pronuncia Paula, simplesmente. Meu próprio nome é estrangeiro, russo, mas não da muito na vista. Encontro na reportagem nomes que não são de gente e passaram a ser: Welcome, Pensylvania, Overland. Pode uma coisa dessas?
Há pais que recorrem a misturas: Wandressa, Lusimélia, Roniwalter, Roseméri. Outros simplesmente inventam: Ervane, Reulis. Quantos nomes de gente conhecida são também estranhos? O político Pauderney, a desportista Shelda, o escritor Lêdo.
Um amigo descendente de libanês contou-me que tinha uma tia com um nome incrível: Uruqsan. Registrado. Não havia nada parecido no Líbano, de onde viera menina. Lá ela se chamava Roxane. O avô contava que repetira varias vezes o nome dela para o funcionário da imigração e este o anotara no documento. Não entendia a grafia brasileira. Imagine, leitor, o sotaque carregado do libanês ao silabar Roxane, o "r" palatal apoiando-se numa ausente vogal "u", o "x" soando "cs" como em "fixa" ou "flexão", e você estará perto de Uruqsan.
Sim, às vezes a culpa é do cartório. Aconteceu com Millôr, que era para ser Milton mas a letra ruim do escrivão empurrou o pequeno traço do "t" para cima do "o", não desenhou direito a perninha do "n", e o Milton desapareceu. Meu próprio irmão era para se chamar Jesus, como meu pai, mas um escrivão latinista ou católico demais transformou-o em Jésus. Pode ter achado falta de respeito alguém se chamar Jesus. Ora, é um nome popular no México, país de católicos fervorosos.
Quando eu era menino, falava-se de um nome absurdo, Um Dois Três de Oliveira Quatro. Dizia-se que era real, tinha saído no jornal. Saiu também José Índio do Brasil, parece que nome verdadeiro. No fim do cadastramento eleitoral os jornais costumavam vasculhar listas nos cartórios, à procura de curiosidades.
Que não faltam. Não é curioso que tantos jogadores de futebol com nomes terminados em "son" tenham ficado famosos? A começar por Édson, o maior de todos. Confiram: Edmilson, Denilson, Dinelson, Robson, Anderson, Edílson, Liédson, Kléberson...
Curioso também como alguns nomes tradicionais caíram em desuso, considerados "antigos", "feios", "de pobre", "nada a ver": Sebastião, Eustáquio, Joaquim, Benedito, Eurico, Ifigênia, Dirce, Orlando, Vanda, Ildeu, Amélia, Vicente, Lourdes, Raimunda, Aurora, Arlindo. E outros, "modernos", entraram em alta, como Jéssica, Andressa, Pâmela, Gisele, Natalie, Michel, Michelle. Não se explica. Modas...
Pensava que era um castigo carregar um nome esquisito a vida inteira. Gozação na escola, apelidos para amenizar, burocracia dificultando a mudança. Nada disso. O jornal diz que a maioria adora a diferença.
Fonte: Arquivo pessoal recebido em e-mail
Entenderam agora meus amigos o drama vivido por tantos inocentes que não tiveram a chance de poder escolher o próprio nome ?! Se não bastasse esse excesso de criatividade de tantos pais, ainda existe um outro problema, este por sinal vivido por essa que vos escreve. Falo aqui da péssima mania que foi moda a muitos anos atrás de dar nomes compostos aos filhos. Todos em conhecem por Márcia Canêdo, porém os mais íntimos sabem que na realidade é Márcia Patricia Canêdo. Agora convenhamos, primeiramente porque alguém em sã consciência, deixa uma adolescente de 15 anos escolher o nome para a irmã?! Segundo, porque ninguém falou com essa mesma irmã que Márcia é um nome que não exige, nem combina com complemento?! Em 34 anos não recebi uma resposta que em convencesse. Quero deixar claro que nada tenho contra o nome Patricia, porém tal como o Márcia ele não combina com nenhum outro. Enfim, se mudar de nome é uma burocracia danada( aliás como tudo em nosso país..) continuo com meu nome composto, porém abreviado sempre que possível.
Voltando a criatividade excessiva ... aqui onde moro duas familias que conheço a história apenas de nome, onde seus filhos receberão nomes bem incomuns. Na primeira, são irmãs que se chamam Itália e Roma e na outra Sol, Lua e Estrela. Acho isso o cúmulo da covardia , porque quem é obrigado a conviver com o nome depois não é quem por quaisquer motivos esdrúxulos gostava do nome. Portanto a reflexão da crônica do Ivan é justamente que as pessoas tenhm um pouco mais de parcimônia quando escolher o nome para o filho. Essa história de inventar nomes, homenagiar parentes já falecidos não é legal, pensem que seus filhos irão para a escola e que crianças podem ser cruéis quando querem . Ou mais, nunca se esqueçam que vocês podem achar interessante um nome diferente, inusitado, mas apesar do que as pesquisas revelam isso não significa que sua filha ou filho também irão gostar . Fica a dica então!
Márcia Canêdo